quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O BRASIL NO CONTEXTO GEOPOLÍTICO DA AMÉRICA DO SUL.

CEL Rfm  FERNANDO FREITAS DE ALMEIDA
Antecedentes historicos
A Segunda Guerra Mundial (II GM) evidenciou a importância geopolítica da América do Sul na estratégia dos Estados Unidos pela grande quantidade de matérias-primas fornecidas para a sua indústria bélica, além da necessidade de manter a segurança de sua retaguarda e do Atlântico Sul, pois fornecia aos americanos produtos agrícolas e minerais estratégicos. O Brasil também negociava matéria primas, porém, sua posição geográfica, revestia-se de maior relevância geopolítica, devido ao imenso espaço territorial, aos recursos que possuía e ao fato de fazer fronteira com todos os países da região (exceto Chile e Equador), além de ocupar grande parte do litoral do Atlântico Sul e defrontar-se com a África Ocidental. Os Estados Unidos temiam que as forças da Alemanha, a partir da costa do Senegal, avançassem em direção das Américas, atravessando o estreito Natal-Dakar, ocupassem o arquipélago de Fernando de Noronha, e terminassem por conquistar o “Saliente Nordestino”, que abrangia o Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas.
O “Saliente Nordestino”, distante 3.000 quilômetros do ponto mais ocidental da África passou a ser uma região estratégica, pois por ai passavam importantes rotas do tráfego marítimo, procedente do Golfo Pérsico e do Extremo-Oriente, com destino aos portos situados ao norte da América do Sul, no Caribe e na América do Norte. Foi nesta ocasião que o Brasil cedeu aos americanos a base aérea de Parnamirim, em Natal, juntamente com a base de Belém do Pará, desde que os americanos reestruturassem nossas Forças Armadas cujo poder era nulo. Essas bases possibilitaram o estabelecimento de uma ponte aérea, estrategicamente posicionadas, para o abastecimento e apoio também das tropas inglesas que combatiam no norte da África e no Oriente Médio.
Os Estados Unidos pressionaram o Brasil para que permitisse o transito aéreo e naval pelas principais cidades litorâneas do Nordeste, de onde os aviões da IV Frota americana, fundeada em Recife, realizassem vôos diários, através do Cinturão do Atlântico Sul (Saliente Nordestino – ilha de Ascensão-África) com a missão de patrulhar o oceano, entre as bases de Natal e Ascensão, visando detectar submarinos do Eixo e principalmente navios furadores de bloqueio que transportavam da Ásia, principalmente, matérias-prima estratégicas para o esforço de guerra da Alemanha.
Interesses estratégicos
A partir da vitória na II GM, os Estados Unidos buscaram consolidar a supremacia econômica, política, militar e cultural, que conquistaram, derrotando a Alemanha e avassalando a Grã-Bretanha, a França e demais países da Europa Ocidental. E, também não renunciaram à hegemonia da América Latina.
Aos poucos, os americanos foram estabelecendo bases militares permanentes e equipamentos bélicos na América do Sul, como no Suriname, na Guiana, bem como na Colômbia, Peru, Equador e Bolívia, no sentido de dar-lhe vantagem estratégica, para intervir militarmente em qualquer país, se necessário, a fim de defender seus interesses econômicos e até mesmo ocupar as nascentes do Amazonas. A própria, militarização da Colômbia, com a presença de mais de 1.000 militares e mercenários americanos, constitui um desafio para a própria segurança nacional do Brasil, na medida em que ameaça a Amazônia.
No atual cenário, os Estados Unidos estão preocupados com a crescente presença da China na América do Sul que vem aos poucos ampliando seu intercâmbio, não apenas com a Venezuela, mas também com a Colômbia, Equador, Bolívia, Chile, e principalmente, com o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Os chineses estão interessados, sobretudo, em assegurar fontes de energia, como gás e petróleo. Os americanos por sua vez, querem controlar os recursos minerais e energéticos na região, tais como as jazidas de ferro de Mutum, o nióbio, as reservas de gás natural existentes na Bolívia, na Patagônia e o Aqüífero Guarani, o maior reservatório de água subterrânea do mundo, no Brasil e países que integram Cone Sul.
As reservas descobertas na camada do pré-sal inseriram o Brasil no mapa geopolítico do petróleo. Com a perspectiva de que a região se torne um dos grandes centros produtores de petróleo, os americanos reativaram a IV Frota, sob o pretexto de combater o tráfico de drogas, de armas, pessoas, terrorismo e a pirataria, que ameaça o fluxo do livre comércio nos mares do Caribe e da América do Sul.
Se fizermos uma análise estratégica da situação, verifica-se que as operações navais realizadas pela IV Frota, evidenciam que os Estados Unidos complementaram o anel de bases militares na América Latina, envolvendo Comapala, em El Salvador; Guantánamo, em Cuba; Comayuga, em Honduras; Aruba, em Curaçao; e descendo para a América do Sul, em Manta, no Equador que, por razões politicas, deverá ser transferida para a Colômbia. Esse cinturão seria ainda completado com a base aérea, construída em 1983 e posteriormente ampliada, em Mariscal Estigarribia, no Paraguai, distante apenas 200 quilômetros da fronteira com a Bolívia e a Argentina, e a 320 quilômetros do Brasil, muito perto da Tríplice Fronteira. Aí vem a pergunta que não quer calar! Qual o objetivo do Tio Sam com essas bases e qual os seus interesses?
Por sua vez, o candidato republicano para as próximas eleições americanas, Mitt Romney, publicou um documento, “Um Século Americano--- Uma estratégia para garantir os interesses e ideais permanentes americanos” divulgando a estratégia da política externa. Quando aborda a América Latina, não faz uma referência sequer ao Brasil, entretanto, tem muitos pontos que certamente entrarão em choque com a posição brasileira e afirma que seu governo terá um papel ativo na América Latina!
As riquezas do Brasil e os objetivos da IV Frota
A IV Frota está integrada por “Forças de Operações Especiais”, da Marinha, que são forças empregadas em ações diretas e em missões de reconhecimento especial, capazes de empreender guerra não convencional, defesa interna no exterior e operações contra terrorismo. Possuem também navios de assalto anfíbio, cuja principal missão é embarcação, deslocamento, desembarque de tropas altamente móveis e auto-sustentáveis para executar missões em várias partes do globo. Eles asseguram que essas forças são para executar “missões humanitárias”.
É evidente que os Estados Unidos, com o domínio dos mares, e do espaço, nunca deixaram de ter navios de guerra trafegando nas águas internacionais da América do Sul, embora a IV Frota, criada em 1943, durante a II GM, houvesse sido extinta, oficialmente, em 1950.
Sua reativação não significa maiores mudanças nas atividades militares dos Estados Unidos no Atlântico Sul, uma vez que a maior parte de seu comércio global se realiza com países do hemisfério, e o petróleo que importa provém da própria região. O canal do Panamá, por sua vez é uma região estratégica, pois é a ligação do Atlântico com o Pacífico e a maioria dos navios que transitam pelo Canal destinam-se aos portos americanos. Eles apenas oficializaram sua presença que, de fato nunca deixou de existir. No entanto tem como objetivo demarcar e reafirmar o Atlântico Sul como área sob seu domínio, sobretudo em face da descoberta de grandes jazidas de petróleo do pré sal. A sua reativação ocorreu dentro de um contexto que se afigura altamente desfavorável, pois na verdade, a maioria dos países sul americanos são de esquerda, alguns mais radicais, outros mais moderados, que exprimiram, de um modo ou de outro, a rejeição pela influência dos Estados Unidos. Eles já perceberam que a tendência dos países da América do Sul é ficar fora de sua influência e definir sua própria identidade. O exemplo veio com a criação da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) formada pelos doze países sul americanos. O tratado constitutivo da organização foi aprovado durante Reunião Extraordinária de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Brasília, em 23 de maio de 2008. Dez países já depositaram seus instrumentos de ratificação (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela), e no futuro ficarem sob a liderança do Brasil, juntamente com a Argentina e Venezuela.
A China por sua vez penetra cada vez mais na África, e projeta em curto espaço de tempo atingir a América do Sul, de forma ainda mais intensa, por causa dos abundantes recursos de gás e petróleo, das grandes reservas minerais e recursos hídricos, e da imensa capacidade de produção alimentar, muito superior à da África, o que não é do agrado dos americanos. Ao mesmo tempo, o Brasil é o maior exportador mundial de alimentos, brevemente tornar-se-á um dos maiores exportadores de petróleo e possui grandes reservas de água. Eles tem receio de perder este rico mercado para a China que está caminhando de vento em popa!
Com certeza a IV Frota, ficará de sobreaviso e na hora H, estará pronta e articulada para dar o bote! E Deus salve o Brasil!
O Brasil desarmado
As Forças Armadas de um país constituem o instrumento fundamental de ação política e de defesa do Estado. É o grande sustentáculo da soberania de uma nação. Um estado desarmado não é um estado soberano. O Brasil precisa que suas Forças Armadas disponham de meios com capacidade plena de exercer a vigilância do território, das águas jurisdicionais e do espaço aéreo e ter capacidade militar apta a produzir um efeito dissuasório.
É bem verdade que o Brasil passou um longo período sem participar de conflitos que afetassem diretamente o seu território, e, em conseqüência, parece que a percepção de ameaças está desvanecida para a sociedade brasileira. Porém, é imprudente imaginar que um país com o potencial do Brasil não venha a ter no futuro disputas e antagonismos ao buscar alcançar seus legítimos interesses. Não podemos descartar a hipótese de um conflito com uma potência tecnologicamente superior ou do envolvimento do Brasil em conflito que atinja suas fronteiras e, por conseguinte, afete a nossa segurança nacional.
Talvez nossos políticos se esquecem que as Forças Armadas têm a missão de garantir a soberania, o patrimônio nacional e a integridade territorial da Nação. Parece que o estado de penúria das Forças Armadas não é motivo de preocupação das autoridades do governo! No próprio Congresso Nacional os políticos não se interessam e desconhecem as nossas vulnerabilidades estratégicas. Não se ouve nenhuma voz gritante dentro daquela Casa ou no próprio governo que se sensibilize com a defesa da Nação e com as futuras ameaças! Ou será que eles pensam que a paz será eterna e que nada acontecerá com o nosso querido País. O povo é pacífico! Deus é brasileiro; aqui é uma ilha de paz e amor, não esqueçamos que somos os melhores do futebol e tudo vai se resolver depois do carnaval!
Entretanto, não estamos imunes as ameaças que poderão advir num futuro próximo, com a escassez de água e de fontes de energia no mundo. Vejamos, por exemplo, a vasta região amazônica, que continua vulnerável em termos de proteção de seu grande potencial de riquezas minerais, fontes de água doce e de biodiversidades, que se constituem em permanente foco de atenção e cobiça internacional. As inúmeras ONGS esparramadas pelo território são ameaças perigosas, com cientistas, religiosos e universitários estrangeiros empenhados em transformar tribos indígenas brasileiras em nações independentes, iniciativa que vem de longe e que poderá redundar num reconhecimento de reservas indígenas como países “libertados empenhados em usurpar nossas riquezas e transformar tribos indígenas brasileiras em nações independentes”. Felizmente, ainda são as Forças Armadas que diuturnamente prestam serviço altamente humanitário e dignificante na região, e talvez, a única presença permanente do poder do Estado na fronteira amazônica. Quanto a Amazônia Azul, apesar do esforço da Marinha no sentido de aumentar a capacidade dos meios navais continua vulnerável e o mesmo acontece com o espaço aéreo que continua sem proteção, pois a defesa aeroespacial ainda não dispõe das tão sonhadas aeronaves de caça.
No Exército, as atividades subsidiárias parecem ser as atividades-fim, pois o seu emprego é sistematicamente em missões de defesa civil, vacinação de crianças e de cães, distribuição de alimentos e de água, garantia de eleições, limpeza de cemitérios, missões de policia e até da pacificação dos morros cariocas que é prerrogativa das policias militares, expondo a nossa tropa pára-quedista a situações ridículas e de vexame bem como a sanha da bandidagem. A nossa Força com o equipamento ultrapassado e desgastado deixa a desejar e compromete a sua operacionalidade, ou mesmo, perde a capacidade de pronta resposta em caso de uma agressão externa. Precisamos investir em pesquisa tecnológica no sentido de acrescer novas tecnologias em armamentos e propiciar o desenvolvimento da própria indústria de defesa, buscando a tão desejada autonomia e auto-suficiência, condição essencial para alcançar o status de grande potência, e não ficarmos a reboque das nações desenvolvidas. Um Estado, que importa continuamente materiais de defesa não tem condições de enfrentar a eventualidade de uma guerra. A Marinha se esforça no desenvolvimento do projeto do submarino nuclear e, no entanto, o programa vem se arrastando por mais de vinte anos por falta de recursos e vontade política do próprio governo.
Enquanto nas nações desenvolvidas, os cientistas já estão na segunda fase do acelerador de partículas, para descobrir a origem do universo, nós estamos pesquisando morteirinhos e fabricando PST.45. Porque a nossa indústria de defesa não foi para frente? Ou será que foi por pressão dos meninos do Tio Sam!
E diante dos fatos apresentados é profundamente lamentável a situação que se encontram nossas Forças Armadas.
Cel Rfm Carlos Fernando Freitas de Almeida
Brasília, 25 de janeiro de 2012
Referências: _ Conferências, publicações diversas, análise de cientistas políticos e militares, Futuro da Nossa Economia, Situação das Forças Armadas, Ameaças ao nosso patrimônio, Evolução da Economia Mundial, Meio ambiente. Dados pesquisados na mídia.