quarta-feira, 31 de dezembro de 2014


Em encontro com Dilma, governador José Melo propõe transposição do rio Amazonas

Governador diz a secretários que sugerirá à presidente da República levar água da foz do rio Amazonas para o Nordeste

30 de Dezembro de 2014

LUCIANO FALBO

 

Presidente Dilma Rousseff e governador José Melo, em reunião em Brasília no primeiro semestre de 2014 (Roberto Sturck )

Em um almoço informal com secretários e jornalistas na tarde de ontem na sede da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz), o governador José Melo (Pros) revelou que pretende levar à presidente Dilma Rousseff (PT) uma proposta de transportar água da foz do Rio Amazonas para o semiárido nordestino. O governador também revelou que quer sensibilizar a presidente para o potencial de piscicultura que tem o Amazonas. Na edição de ontem, A CRÍTICA mostrou que  José Melo pretende se reunir com Dilma Rousseff nos primeiros dias do ano que vem.

Segundo o governador, “os ricos sentiram na pele” o problema da falta de água, ao se referir à crise que o Estado de São Paulo passa com escassez do recurso em suas fontes. Para José Melo, o País acordou para a questão da falta de água. O governador disse acreditar que  a transposição deve secar o Rio São Francisco em cerca de 50 anos.

José Melo disse que a água do Rio Amazonas vai para o mar e que não há nenhuma comprovação científica de que a retirada da água doce faça alguma interferência na natureza.  O governador citou a construção de um oleoduto de milhares de quilômetros na Sibéria como exemplo da viabilidade da proposta.      “Se  eu fosse a  Dilma, investiria na ideia”, disse Melo.

O governador também disse que para o futuro a psicultura é a saída mundial para a produção de proteínas e que a Região Norte é estratégica nesse quesito.  “Ao invés de ela (Dilma) dizer que o Amazonas é o maior produtor de celular, ela poderá dizer que é o maior produtor de proteína de peixes do mundo. Vou levar essas ideias para ela”, disse. “Vou colocar no ouvido dela essas minhas loucuras”, brincou.

Em 2015, o governador disse que investirá fortemente, “com dinheiro do tesouro”, no setor. O gestor revelou que tem a intenção de investir em enlatados de peixe. “Assim agregamos valor. Temos mercado mundial, exportação”, afirmou. Melo disse que 80% da produção será do produtor e 20% será recolhido pelo governo, que usará os recursos para programas sociais e enviar uma parte para o nordeste. “Lá ainda existe criança correndo atrás de calango para comer”, disse.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

50 ANOS DO CENTRO DE INSTRUÇÃO DE GUERRA NA SELVA - CIGS
MINISTÉRIO DA DEFESA - 15 ANOS



A área na qual as forças militares serão empregadas está restrita ao Complexo da Maré, na região metropolitana do Rio de Janeiro – mais especificamente: Praia de Ramos, Parque Roquete Pinto, Parque União, Parque Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré, Conjunto Nova Maré, Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Bento Ribeiro Dantas, Vila dos Pinheiros, Conjunto Pinheiros, Conjunto Novo Pinheiro – Salsa & Merengue, Vila do João e Conjunto Esperança.

A prorrogação da GLO assegura aos militares das Forças Armadas o poder de efetuar prisões em flagrante, patrulhamentos e vistorias. O emprego em GLO se dá por meio das seguintes legislações: Lei Complementar nº 97/1999; Decreto nº 3.897/2001 e artigo 142 da Constituição Federal.

Informações: Ministério da Justiça
Assessoria de Comunicação
Ministério da Defesa

 

Presença das Forças Armadas na Favela da Maré é prorrogada em seis meses

Brasília, 30/12/2014 – O Governo Federal anunciou nesta terça-feira (30) que as Forças Armadas permanecerão por mais seis meses no Complexo da Maré, na operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que visa à pacificação da área. Os militares iniciaram os trabalhos em abril de 2014 - a previsão é que ficariam no local até esta quarta-feira (31).

Foto: Tereza Sobreira

 

Chefe do EMCFA, general José Carlos De Nardi, fala à imprensa sobre a prorrogação da operação de GLO na Favela da Maré: seis meses

A prorrogação da GLO, entretanto, prevê a redução gradual do contingente de homens das Forças Armadas a partir de 31 de março. Eles serão substituídos por agentes das Instituições de Segurança Pública do Rio de Janeiro até o final de junho de 2015. O protocolo com as regras para a transição será assinado no próximo dia 7 de janeiro entre o governo fluminense, o Ministério da Defesa e o da Justiça.

A decisão de prorrogar a presença das Forças Armadas na Maré foi tomada após reunião de trabalho com a presença do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, do ministro da Defesa, Celso Amorim, do chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), general José Carlos De Nardi, e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. 

O governador Pezão explicou que o trabalho desenvolvido pelo Governo Federal, no prazo pedido pelo estado do Rio de Janeiro, foi estratégico. "Só conseguimos avançar no combate à criminalidade com essa cooperação, com o suporte estratégico do Governo Federal no combate à criminalidade”, disse.

O general José Carlos de Nardi e a secretária nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Miki, também definiram os detalhes da prorrogação. O ministro José Eduardo Cardozo lembrou que há uma tradição de apoio ao Rio de Janeiro, com um suporte à política das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs).

Governo do Sudão expulsa dois representantes da ONU; Ban Ki-moon diz que ação é ‘inaceitável’

O presidente sudanês já havia pedido a saída da missão de paz da ONU e da União Africana em meio à tentativa de investigação de um estupro em massa de 200 mulheres que teria ocorrido no país.

 

Foto: Albert González Farran/UNAMID

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, classificou como “inaceitável” a expulsão de dois funcionários de alto escalão das Nações Unidas no país. Segundo um comunicado emitido por seu porta-voz, a ONU confirmou que o governo do Sudão decidiu expulsar o atual coordenador residente e coordenador humanitário da Organização, Ali al-Zaatari, e a diretora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no país, Yvonne Helle.

“O secretário-geral condena a decisão do governo do Sudão de expulsar [os dois funcionários]. A sanção de funcionários das Nações Unidas enviados ao Sudão para exercer as suas funções em conformidade com a Carta das Nações Unidas é inaceitável”, disse o comunicado da ONU.

O secretário-geral pediu que o governo local reverta sua decisão “imediatamente” e o incitou a cooperar “plenamente” com todas as entidades das Nações Unidas presentes no Sudão.

Segundo relatos da imprensa internacional, a expulsão ocorre um mês depois do presidente ter pedido a saída da missão de paz conjunta da ONU e da União Africana (UNAMID), a chamando de um “fardo para a segurança”. O chefe da força de paz da ONU já havia declarado que a missão não deve aceitar o pedido para sair do país, quando a situação parece estar piorando.

Por meio da missão de paz, a ONU está investigando o estupro em massa de 200 mulheres no país, mas está tendo dificuldades de concluir as investigações devido à falta de cooperação das autoridades. Em novembro, Ban Ki-moon já havia solicitado acesso “irrestrito” à cidade de Tabit para que os investigadores possam verificar os relatos sobre os supostos crimes, sem sucesso.

A ONU tem uma forte presença no país atingido por graves problemas humanitários e de segurança, tanto com a missão de paz quanto com as diversas agências, fundos e programas que atuam no Sudão.

Deputados se mobilizam por fim do embargo a Cuba

Grupo reúne parlamentares do Brasil e de outros países da América Latina e Europa. O objetivo é pressionar o Congresso dos Estados Unidos para acabar com as sanções econômicas à ilha, ideia que esbarra em resistências de republicanos e setores dos democratas

Gilberto Nascimentogilberto.nascimento@brasileconomico.com.br

Um grupo de parlamentares progressistas de diversos países da Europa e da América Latina começa a se mobilizar agora para pressionar o Congresso Americano pelo fim do embargo comercial do país a Cuba. São os mesmos políticos que participavam das manifestações pela libertação de cinco agentes cubanos presos nos Estados Unidos por espionar organizações anticastritas de Miami, que são acusadas de planejar ataques contra a ilha. Para o deputado federal Renato Simões (PT-SP), integrante do grupo, com a decisão dos presidentes Barack Obama e Raúl Castro de retomar as relações diplomáticas e trocarem presos, resta agora o fim das sanções econômicas, uma decisão que cabe ao Parlamento dos Estados Unidos. Ele acredita que a proposta terá dificuldades para passar.

Sem apoio dos republicanos, o fim do embargo encontra resistências mesmo entre os democratas. Em junho, o deputado brasileiro se reuniu, nos Estados Unidos, com congressistas democratas mais progressistas. “A expectativa deles era que Obama anunciasse o reatamento com Cuba depois das eleições parlamentares e antes do anúncio dos candidatos democratas à sucessão presidencial, o que de fato ocorreu”, afirma. No começo do ano, Simões embarca para Cuba, onde deve se encontrar com os cubanos que foram colocados em liberdade. Ele também deve se reunir com outras personalidades do regime cubano para conversar mais sobre o andamento do diálogo entre os países. Uma das preocupações dos movimentos sociais é com a situação de Assata Olugbala Shakur, integrante dos Panteras Negras exilada na ilha desde 1980.

 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Academia Militar das Agulhas Negras forma 427 aspirantes-a-oficial

Publicado em Segunda, 01 Dezembro 2014 18:38 | Última atualização em Terça, 02 Dezembro 2014 10:44
Resende (RJ), 01/12/2014 – Numa cerimônia carregada de emoção, com a presença de cerca de quatro mil familiares e amigos, 427 cadetes restituíram seus espadins, receberam suas espadas e foram declarados aspirantes-a-oficial pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). O evento, realizado na sede da AMAN em Resende, no sul fluminense, teve a presença do ministro da Defesa, Celso Amorim, e do alto comando das Forças Armadas brasileiras. 

O ministro Amorim, acompanhado do comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, foi recepcionado pelos cadetes e oficiais da AMAN no Portão Monumental da Academia, quando fez a revista à tropa e ouviu a salva de 21 tiros de canhão.
Já no palanque montado no pátio Tenente Moura, Amorim e as autoridades civis e militares assistiram à apoteótica formatura. Marchando em compasso impecável, os 427 aspirantes-a-oficial adentraram o pátio sob a ovação de familiares e amigos. Na sequência, a espada que pertenceu ao marechal Duque de Caxias foi disposta em frente aos formandos, simbolizando a presença do patrono do Exército Brasileiro.

Foram 427 cadetes que se tornaram aspirantes-a-oficial: 422 brasileiros e cinco estrangeiros
Os melhores aspirantes em cada arma receberam as espadas de autoridades. Logo depois, os demais foram agraciados pelos seus próprios parentes. Foi quando o pátio Tenente Moura recebeu uma enxurrada de lágrimas de familiares que não contiveram a emoção ao ver seus filhos formados.
Com os aspirantes novamente alinhados, o ministro Celso Amorim falou aos formandos. Ele lembrou aos jovens o privilégio de terem se formado numa das “principais instituições” do país e uma das “melhores academias de formação militar do mundo”. Amorim também saudou a memória do marechal Duque de Caxias, que, segundo ele, “não foi apenas um grande guerreiro, mas também um grande estadista e, sobretudo, um pacificador”.

Familiares se emocionam ao entregar a espada aos filhos recém-formados na AMAN: grau de Bacharel em Ciência Militares
Celso Amorim destacou que os jovens aspirantes-a-oficial trabalharão num ambiente de alta interoperabilidade entre as três Forças singulares, com o emprego de equipamentos adequados às necessidades de Defesa do país. O ministro também saudou os cinco estrangeiros formados pela AMAN: dois de Moçambique, um de Angola, um do Peru e um da Guiana.
Por fim, após destacar a cooperação e dissuasão que norteiam a estratégia brasileira de Defesa, Celso Amorim ressaltou a responsabilidade dos aspirantes em trabalhar “por um país cada vez mais democrático e justo”.
Armas
Os 422 aspirantes brasileiros vão se distribuir da seguinte forma entre as armas do Exército Brasileiro: 135 na Infantaria; 63 na Cavalaria; 57 na Artilharia; 39 na Engenharia; 57 na Intendência; 36 nas Comunicações; e 35 em Material Bélico. Todos saem da AMAN com o título de bacharel em Ciências Militares.
Foto: Jorge Cardoso

O Pátio Tenente Moura foi tomado pela emoção de formandos e seus parentes: lágrimas pela conquista
Além de Celso Amorim e do general Enzo Martins Peri, participaram da formatura o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armas, general José Carlos De Nardi; o comandante da Marinha, almirante Julio Soares de Moura Neto; o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito; o secretário-geral do Ministério da Defesa, Ari Matos Cardoso; além de parlamentares, oficiais da reserva e a alta cúpula do Exército Brasileiro.
Assessoria de Comunicação
Ministério da Defesa

Produção industrial brasileira fica estagnada em outubro, diz IBGE
Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a produção do setor apresentou retração de 3,6%. De janeiro a outubro a industria acumulou queda de 3,0%
Reuters redacao@brasileconomico.com.br


Rio - A produção industrial brasileira ficou estagnada em outubro, pior do que o esperado e iniciando o último trimestre do ano sem força, com mau desempenho em todas as categorias, sobretudo na de bens de consumo.
Sobre um ano antes, a atividade recuou 3,6% em outubro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística (IBGE) nesta terça-feira, acumulando em 12 meses queda de 2,6%, o pior desempenho desde setembro de 2012 (-2,9%).
Pesquisa da Reuters com analistas mostrou que a expectativa era de que a produção industrial subisse 0,30% na comparação mensal e queda de 3% na anual.
"Esse mês não houve nenhum tipo de efeito do calendário e, na comparação interanual, chegou-se a 8 meses seguidos de queda", afirmou o economista do IBGE André Macedo. "É um perfil de queda disseminado", acrescentou.
Segundo o IBGE, nenhuma das principais categorias mostrou expansão em outubro, quando comparado com o mês anterior, com destaque para bens de consumo duráveis e semiduráveis e não duráveis em queda de 0,8 e 0,6%, respectivamente. Em setembro, elas tinham subido.
O mau desempenho vem em meio ao cenário de atividade econômica fraca e inflação elevada, e perspectiva de arrefecimento no crédito devido ao novo ciclo de aperto monetário iniciado pelo Banco Central. Ao elevar a taxa básica de juros do país, para combater a alta dos preços, a autoridade também encarece o custo dos empréstimos, afetando o consumo.
"Inadimplência e maior comprometimento da renda, seletividade e encarecimento do crédito e mercado de trabalho moderado justificam o comportamento da demanda interna menor. E, combinado a isso, na maior parte da indústria os estoques estão acima do considerado ideal", afirmou Macedo.
Dos 24 ramos pesquisados, segundo o IBGE, 16 mostraram queda em outubro. As principais influências negativas vieram dos produtos farmacêuticos (-9,7%) e veículos automotores(-2,2%). Na outra ponta, houve expansão em produtos alimentícios (2,5%).
E já há sinais de que o setor não conseguiu mostrar recuperação neste final deste ano. O Índice Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) de novembro mostrou que a indústria brasileira viu a contração aprofundar ainda mais, com queda na produção e novos negócios.
A economia brasileira está estagnada, com o setor industrial pesando neste quadro. No trimestre passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu apenas 0,1%, com a indústria marcando expansão de 1,7% sobre o segundo trimestre, quando houve menos dias úteis por conta da Copa do Mundo e ajudando na recuperação agora.
Pesquisa Focus do Banco Central com economistas mostra que a projeção é de contração de 2,26% da indústria neste ano e crescimento de 1,13%em 2015. Para o PIB, as contas são de crescimento de 0,19 e 0,77%, respectivamente.
A nova equipe econômica --encabeçada por Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento e Alexandre Tombini no Banco Central-- já sinalizou mais rigor fiscal para tentar recuperar a confiança dos agentes econômicos.

Nossos faróis do desenvolvimento
Para ser um farol de desenvolvimento, o Estado precisa preservar e fortalecer instituições financeiras e empresas públicas, mantendo corpos técnicos autônomos, cientes de sua missão
Rogerio Studart rogerio.studart@brasileconomico.com.br


Grande parte das economias do mundo, especialmente as vinte maiores (o G-20), está passando por uma crise de crescimento, determinada pela fraqueza das demandas doméstica e externa. Seus governos estão empenhados em políticas que procuram, simultaneamente, reavivar o crescimento e estabelecer uma trajetória de crescimento. No Brasil, entretanto, estamos tão fixados no ajuste que esse “papel empresarial” do Estado e suas instituições pode estar sendo menosprezado. Isso preocupa.
Os dados recentemente publicados pelo IBGE apontam para uma desaceleração sobre o consumo doméstico. E as notícias vindas dos nossos principais parceiros comerciais — regionais, asiáticos e europeus — não são tampouco animadoras. Com demandas interna e externa fracas, é natural que os empresários não tenham ânimo para investimentos de longo prazo. Não se pode ignorar o alto risco de que entremos num ciclo perverso de retração de investimento, queda da produção e do emprego.

Não faltam ao Brasil, entretanto, oportunidades de investimento que, se realizados, poderiam cementar uma nova trajetória de crescimento — como a presidenta Dilma acertadamente aponta: o pré-sal, que pode criar focos de investimento e inovação que vão além das suas cadeias de produção; a necessidade de ampliar rapidamente as infraestruturas necessárias para melhor mobilidade e habitação nos grandes centros urbanos, que abre oportunidades para ampliação das parcerias público-privadas; os desafios colocados pelas mudanças climáticas e crescente escassez de recursos naturais (água, por exemplo), que demandam respostas, mas também inspiram a busca de soluções inovadoras na academia e no setor privado — e assim por diante. Somente com essas três frontes de crescimento, podemos imaginar o Brasil se reinventando e se posicionando competitivamente dentro de uma nova ordem econômica mundial dominada pela sociedade do conhecimento.

Se não faltam oportunidades, é preciso de alguma forma romper com o desânimo dos investidores produtivos. Alguns creem que isto passa somente pelo necessário ajuste macroeconômico e por reformas que promovam melhor ambiente de negócios. Pode ser, mas as evidências não apontam nesse sentido: em momento de alta incerteza, é essencial que o Estado ilumine o caminho de longo prazo sobre o qual podem trilhar os investidores privados — que por sua vez são os que dão a dinâmica do crescimento. Este foi o caso naquelas superpotências que (re)emergiram nos pós-guerra inovando e reinventando suas bases produtivas (por exemplo, os Estados Unidos, o Japão e a Alemanha), mas também nas economias dos chamados tigres asiáticos — como a Coreia do Sul e mais ainda a China. Não por outra razão os governos nessas mesmas nações têm sido, ao longo da atual crise, atuantes nos estímulos a setores inovadores, com financiamento e outras políticas.

Para exercer esse papel de farol de desenvolvimento, por fim, o Estado necessita preservar e fortalecer as instituições financeiras e empresas públicas, mantendo corpos técnicos autônomos, cientes (e orgulhosos) de sua missão. Isso é o que se conclui da leitura de autores como Alice Amsdem, Carlota Perez, Dani Rodrik, Ha Joon Chang e Antônio Barros de Casto, para mencionar alguns. É o que, por fim, demonstra cabalmente o “best-seller” de Mariana Mazzucato, o “Estado empresarial”.

No Brasil de hoje, entretanto, parece crescer a convicção de que podemos sair desta insistente crise sem necessitar de um Estado mais atuante. Por outro lado, instituições públicas do nosso Estado empresarial estão sob ataque. Quem conhece de perto o BNDES, por exemplo, estranha as críticas a suas políticas de investimento. Reconhece, ao contrário, que é uma das muitas instituições do mundo (como o Banco Mundial, o Banco de Investimento Europeu e o Banco de Desenvolvimento chinês, entre muitas outras) que se dedicam, com um corpo técnico competente e autônomo, a analisar as oportunidades de desenvolvimento, para o investimento do setor privado. Sabe também que essa instituição não só participa diretamente do financiamento mas também alavanca fontes privadas — por exemplo através do BNDESPar e de parcerias com instituições financeiras internacionais.
Caso similar ocorre com a Petrobras, que tem enorme importância em atrair investimentos na cadeia de produção e distribuição de petróleo. Mas, hoje em dia, a apuração (que é absolutamente necessária) das irregularidades graves na sua política de compra é pano de fundo de críticas duras ao seu papel na economia. Isso é perigoso. Como ex-diretor executivo de duas instituições multilaterais relativamente pequenas em relação ao tamanho da Petrobras, testemunhei algumas falhas de governança significativas — que felizmente foram trazidas à baila por mecanismos apropriados. Nesses episódios, a administração e os acionistas tiveram o cuidado de não colocar em questão a missão fundamental da instituição e de seus funcionários. Sem isso, incorreríamos no risco de desmoralizar a imagem e autoestima da grande maioria do corpo técnico, sem as quais seria impossível a perseguição do mandato institucional.
É legitimo e apropriado que se regule e se monitore a atuação de empresas (públicas e privadas!) para garantir que, para além dos interesses pessoais e corporativos, a missão comum esteja sendo perseguida — especialmente se estivermos falando de instituições cujos acionistas são toda a população. Mas deve-se a todo custo evitar que essa vigilância se torne impedimento, seja por obstrução de recursos, seja por desmoralização de sua alta administração e do seu corpo técnico, para que elas cumpram seu mandato. Especialmente num momento em que precisamos mais do que nunca dessas instituições para guiar transformações importantes e necessárias para o Brasil, para, como ocorre em outras economias, serem os faróis do desenvolvimento. Sem uma determinada atuação dessas instituições, corremos o risco de perder, mais uma vez, o bonde da História.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Sobras de guerras alimentam a cultura kamikaze que se instala nos EUA
Objetos voadores controlados remotamente, os agora populares drones, põem em risco espaço aéreo norte-americano
Heloísa Villela heloisa.vilela@brasileconomico.com.br

O que deve fazer o piloto de um voo comercial quando está na metade da decolagem, ou se aproximando da pista na hora do pouso, e vê um objeto do tamanho de uma lata de lixo grande se aproximar rapidamente? Essa preocupação vai entrar na já longa lista de cuidados que os pilotos devem ter nos dois momentos mais críticos de qualquer voo. A decolagem e a aterrissagem. A reportagem publicada na última semana, pelo jornal The Washington Post, é alarmante: dados da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) mostram que nos últimos seis meses os pilotos do país passaram por 25 situações como esta, de quase colisão com objetos voadores controlados remotamente, os agora populares drones.
Os sustos, por enquanto, não tiveram consequências fatais, apesar de a maior parte das situações ter acontecido em aeroportos de muito movimento: em Los Angeles e aqui em Nova York. Mas agora que o governo se prepara para abrir o espaço aéreo a diversos tipos de atividades com drones, tudo é uma questão de tempo. Alguns poucos departamentos de polícia municipais já têm seus drones. San Jose, na Califórnia, comprou um escondido do conselho municipal e agora está sob sérias críticas da população. Mas diversos departamentos de segurança já entraram na fila para comprar seus aparelhos. Na agricultura, no cinema, no jornalismo e até na entrega de mercadorias, como quer fazer a empresa Amazon, já existem projetos de trabalho que contam com os drones e aguardam apenas as regras que devem sair no ano que vem. Segundo lei aprovada no Congresso, o FAA tem até setembro de 2015 para apresentar as normas que vão regulamentar a invasão do espaço aéreo por esses objetos voadores não tripulados.
Se a experiência longe de casa serve de base para o uso dos aparelhos nos Estados Unidos, então este país tem mesmo o que costumo chamar de “cultura kamikaze”. Se atira à morte sem pensar duas vezes. Não com a velocidade dos pilotos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Mas avançando a realidade no tempo, é mais ou menos a mesma coisa. Depois de muita luta e de vários pedidos dentro da Lei de Liberdade de Imprensa, o mesmo Washington Post levantou o histórico dos drones usados para lançar mísseis no Afeganistão e no Iraque. São mais de 50 mil páginas de relatórios sobre acidentes. Entre setembro de 2001 e dezembro de 2013, foram registrados mais de 400 acidentes com drones das forças armadas norte-americanas.
Por sorte, muita sorte mesmo, eles não mataram ninguém (ou ao menos não ficou um registro oficial de civis mortos nesses acidentes). Mas muitos caíram em vilas, se chocaram contra casas, estradas, fazendas e um deles bateu em um avião de transporte de carga da própria força aérea norte-americana deixando um rombo na fuselagem. O piloto já estava bem próximo da pista no momento da trombada e todo o vazamento de combustível e a fumaça não impediram o pouso. Mas foi por pouco.
Os Estados Unidos treinam pilotos de drones em número cada vez maior. A sede dos treinamentos fica na Base Aérea de Holloman, em Albuquerque, no Novo México. Visitei a base no ano passado com um grupo de jornalistas estrangeiros. Os oficiais se desdobraram para mostrar as vantagens e a precisão dos dois drones mais usados pelos militares norte-americanos: o Reaper e o Predator. No centro de treinamento, dois pilotos sentados lado a lado controlavam o simulador. Um voava o aparelho e outro ficava de olho nas imagens que as câmeras da aeronave captavam do solo. A primeira turma de pilotos da aeronáutica se formou em 2009 e tinha 136 alunos. O número de novos pilotos aumenta a cada nova formatura. Este ano, foram mais de 700. É muita gente preparada para voar drones. E eles não vão atuar eternamente nas guerras, longe de casa. Haverá um mercado doméstico para empregar essa gente.
Os relatórios analisados pelo Washington Post mostram os riscos que os drones apresentam, mesmo quando não ameaçam outras aeronaves. Muitas vezes o piloto voa de cabeça para baixo e nem percebe. Ele está em uma sala com ar condicionado, longe do aparelho. Não corre risco algum se ele cair. Não está no ar, vendo as montanhas ao longe e as vilas abaixo. Eventualmente, o voo de cabeça para baixo se torna um acidente. Outras vezes o piloto simplesmente perde contato com o drone e ele cai. Essa “precisão” toda vai tomar conta do espaço aéreo americano em breve.
Aqui a população também já teve uma prévia do que pode vir por aí... Em abril, um drone do exército norte-americano que pesava 170 kg caiu na Pensilvânia, ao lado do pátio de uma escola de ensino fundamental, poucos minutos depois que as crianças tinham ido para casa. Imagine o que poderia ter acontecido se fosse mais cedo. Ou na hora do recreio.
As forças armadas dos Estados Unidos têm hoje cerca de 10.000 drones de vários tamanhos, na faixa de meio quilo a 15 toneladas, e planeja decolar os aparelhos em 110 bases do país, distribuídas em 39 estados. As polícias municipais também querem usar drones para monitorar situações perigosas. Na fronteira com o México, já existe uma pequena frota patrulhando o movimento de possíveis imigrantes. A nova indústria, que investiu pesado no lobby para aprovar a lei no Congresso abrindo o espaço aéreo aos drones, calcula que vai gerar 100 mil novos empregos até 2025 e movimentar uns US$ 80 bilhões de dólares, incrementando a economia do país.
Isso me lembra o crescimento da exploração de gás de xisto com a tecnologia conhecida como fracking. Um processo que lança uma grande quantidade de água misturada a um conjunto de produtos químicos secretos no subsolo para liberar o gás preso nas bolhas da rocha. As casas mais próximas dos campos de perfuração com fracking já sabem o que acontece. Os poços foram abandonados. A água lá dentro borbulha de tanto metano. Já não serve para beber, tomar banho ou cozinhar. Mas a cultura kamikaze é assim mesmo. Vai fazendo para depois ver o que acontece.

Mercado projeta inflação maior e menor elevação do PIB em 2015
Segundo o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, inflação será pressionada pelos preços administrados. Expectativa de crescimento da economia para 2014 passou de 0,20% para 0,19%
Reuters redacao@brasileconomico.com.br

São Paulo - A mediana das estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano seguiu em 6,43%, mas as projeções para 12 meses à frente e para 2015 subiram – de 6,55% para 6,57% e de 6,45% para 6,49%, respectivamente
Quanto ao crescimento econômico, as projeções para a expansão do Produto Interno Bruto continuaram a cair, de 0,20% para 0,19% neste ano, e de 0,80% para 0,77% em 2015. Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB do terceiro trimestre cresceu apenas 0,1% sobre o segundo.
O Banco Central deve acelerar o passo nesta semana e elevar a Selic em 0,50 ponto percentual, segundo os economistas de instituições financeiras que mais acertam as projeções na pesquisa semanal Focus da própria autoridade monetária, divulgada nesta segunda-feira.
Para 2015, o Top 5 manteve suas contas e vê que a taxa básica de juros encerrará a 12% no cenário de médio prazo. Para o cenário de curto prazo, no entanto, a projeção subiu a 12,25%.
No levantamento da semana anterior, as estimativas eram de que a Selic encerraria 2014 e 2015 a 11,50 e 12%, respectivamente, em ambos os cenários.
Já a mediana de todos os economistas consultados não mudou, com a Selic fechando este ano a 11,50% e, o próximo, a 12%.
Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC divulga qual será a Selic para os próximos 45 dias. No encontro de outubro, logo após o segundo turno das eleições que reelegeu a presidente Dilma Rousseff, deu início ao um novo ciclo de aperto monetário, elevando a taxa em 0,25 ponto percentual, para o atual patamar de 11,25%.
Mas, diante do sinais de que a inflação ainda continua elevada, muitos especialistas passaram a ver que o BC vai acelerar o passo agora.
Na última sexta-feira, foi divulgado que o PIB do Brasil cresceu apenas 0,1% no terceiro trimestre, abaixo do esperado. 
Os especialistas consultados pelo BC mantiveram as perspectivas para o dólar ao final do ano, para R$ 2,55. Para o final de 2015, a estimativa subiu, para R$2,67, ante R$ 2,65.

 Celso Amorim encerra Curso de Altos Estudos de Política Estratégica da ESG

Publicado em Segunda, 01 Dezembro 2014 14:07 | Última atualização em Segunda, 01 Dezembro 2014 14:07
Rio de Janeiro, 01/12/2014 – O ministro da Defesa, Celso Amorim, proferiu a palestra de encerramento do Curso de Altos Estudos de Política Estratégica (CAEPE) da Escola Superior de Guerra (ESG) na última sexta-feira (28/11), no Rio de Janeiro. A qualificação, a mais importante oferecida pela ESG, formou 73 civis e militares, sendo nove estrangeiros de países amigos: Argentina, Colômbia, Equador, Estados Unidos, México e Peru.
Foto: Jorge Cardoso
A turma “ESG: 65 anos pensando o Brasil” – em alusão ao aniversário completado em agosto último – homenageou o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, morto após atentado terrorista à sede das Nações Unidas em Bagdá (Iraque), em 2003. Em seu pronunciamento, o ministro Amorim, que foi colega de Mello no Itamaraty, ressaltou que o embaixador “viveu como diplomata e morreu como soldado.”
Para o ministro, Vieira de Mello simbolizava os princípios brasileiros em política externa e de Defesa: trabalhar pela paz. Amorim revelou que na última conversa que teve com o embaixador, pouco antes do atentado fatal em Bagdá, ele havia pedido para que o Brasil tivesse um papel ativo na reconstrução do Iraque – destruído após a ofensiva ocidental que derrubara o ditador Saddam Hussein do poder. “Sérgio Vieira de Mello era um misto de diplomata, guerreiro e homem de paz”, concluiu.
Pensar o Brasil
Ao cumprimentar os 73 formandos, que por 10 meses se dedicaram à prestigiosa qualificação da Escola Superior de Guerra (ESG), o ministro destacou a vitalidade e a capacidade de renovação do CAEPE: “São homens e mulheres, civis e militares, dos mais diversos recantos do país, das mais diversas formações profissionais, todos interessados no que está disposto no nome da turma, que é pensar o Brasil”, disse.
Foto Jorge Cardoso
O orador da turma, o auditor fiscal Sérgio Magalhães Lima, salientou que o CAEPE é uma qualificação diferenciada, pois “consiste na reunião de civis e militares para pensar o Brasil”. Lima também destacou as várias atividades extraclasse, como visitas às empresas que compõem a Base Industrial de Defesa (BID) e aos pelotões especiais de fronteira no Norte do país: “Pudemos conhecer o Brasil real.”

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Já o comandante da ESG, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, destacou a qualidade dos formandos que a instituição “devolve à sociedade brasileira”. “Nada mais contemporâneo que a ideia de interação entre civis e militares no diagnóstico e na proposição de políticas e estratégias para o Brasil”, afirmou.
Além do ministro Celso Amorim, participaram do encerramento do CAEPE o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi; o comandante da Marinha do Brasil, almirante Julio Soares de Moura Neto; o secretário-geral do Ministério da Defesa, Ari Matos Cardoso; além de outras autoridades civis e militares.
Assessoria de Comunicação
Ministério da Defesa


Se Dilma Rousseff for coerente, tem que tirar a banda podre da Petrobras'
Integrante da equipe energética do primeiro mandato de Lula, o diretor da Coppe/UFRJ Luiz Pinguelli Rosa se diz perplexo com as somas que vem sendo relacionadas à corrupção na estatal
Nicola Pamplona nicola.pamplona@brasileconomico.com.br e Octávio Costa ocosta@brasileconomico.com.br
Atuante nos setores de energia e meio ambiente, o físico Luiz Pinguelli Rosa integrou o “núcleo duro” da equipe que definiu o programa energético petista para o primeiro mandato de Lula. Mas deixou o governo um ano depois, porque não garantia votos no Congresso, segundo a versão corrente à época. Hoje diretor da Coppe/UFRJ, vê no loteamento político a raiz para as denúncias de corrupção na Petrobras, mas acredita que a crise atual pode significar uma mudança positiva na gestão das estatais do país.
“Essa é a vantagem desse escândalo, que botou a história em evidência e não há alternativa que não mudar essa prática”, afirma ele, que se diz perplexo diante dos valores relacionados às denúncias na empresa. Na sua opinião, o segundo mandato Dilma herda, no setor energético, problemas criados em seu primeiro mandato, como a demora em acionar as térmicas para poupar água nas hidrelétricas e a falta de programas de conscientização do uso da eletricidade. “Mas ficamos esperando chover...”, comenta.
O setor energético brasileiro passa hoje por um momento preocupante para o futuro da Petrobras e do setor de petróleo, com a crise energética e as investigações da Lava Jato . É possível traçar um cenário do que pode sair daí?
Dilma está herdando dela mesma uma porção de problemas. Não só no petróleo, na energia elétrica também, embora o petróleo tenha uma conotação mais política por causa das irregularidades dentro da Petrobras. A Petrobras se expôs, são várias pessoas, pelos dados que estão sendo divulgados. Tem um diretor que foi indicado pelo PP, que não devia indicar diretor nenhum, é um partido sem nenhuma importância. Porque o PP? Porque o Lula aceitou isso? É uma situação que já vinha sendo colocada de uns meses para cá, mas agora, nas últimas semanas, descobrimos que envolve também outras pessoas, engenheiros, nomes que surpreendem. Sempre tem a história de dinheiro para partido, que é outro problema mundial, que volta e meia ocorre em outros países. Mas parece que houve também dinheiro para as pessoas, porque um deles se dispõe a devolver não sei quantos milhões, uma quantidade de dinheiro fabulosa. A esse problema se somam outros de gestão, como o preço dos combustíveis, que ficou defasado demais, e a Petrobras ficou com dificuldades para executar os investimentos. Fora a questão da imagem muito abalada, a Petrobras tem o problema do preço dos derivados, deixou atrasar demais a execução das refinarias novas, foi obrigada a importar derivados, principalmente gasolina e diesel, e acabou em certos momentos vendendo combustíveis por um preço que não compensava em relação ao preço de importação. Isso é um desastre. Mas, apesar disso, manteve o programa de investimentos, principalmente na parte de produção, que considero bem sucedida. Não se pode dizer o mesmo do refino. O refino atrasou, fez aquela operação de Pasadena, que tem uma lógica, mas foi mal executada...
O sr. acha que Pasadena fazia sentido?
Claro. A Petrobras sempre precisou exportar parte do seu petróleo muito pesado para trazer petróleo leve e fazer um blend de leve com pesado. Então, Pasadena era uma oportunidade de fazer investimento naquela usina, adaptá-la para refinar o petróleo pesado brasileiro e ter acesso ao mercado norte-americano. O pacote incluía uma base de estocagem, que é importante. Então, em vez de vender óleo pesado a baixo preço, por um valor muito abaixo do petróleo pesado, vende derivado no mercado norte-americano, com uma parcela do óleo que já exporto. Isso era razoável. Agora, daí em diante, não sei mais o que aconteceu. Quer dizer, o início da história era plausível, vender derivados no mercado norte-americano, melhorando o ganho com a exportação do petróleo.
A negociação em si é que foi um problema...
Aí eu já não sei dizer, mas as notícias indicam que tudo parece péssimo, os valores são meio disparatados... Agora, as histórias são todas contadas de forma enviesada, porque é notória uma posição de oposição ao governo de muitos dos que se manifestam sobre isso. Estão se manifestando com uma visão muito carregada. Mas acho que, tirando isso, ainda sobram dúvidas. Ainda mais nesse quadro em que vemos outras irregularidades aparecerem. É presumido que tenha ali também um negócio com valores exagerados.
Uma coisa que se questiona é o loteamento político da Petrobras. Dá para reverter isso? A direção da empresa pode ser eminentemente técnica?
Pode. Há, no mundo, exemplos a serem seguidos. A EDF francesa, por exemplo, é uma empresa 100% estatal, mas é técnica, não é uma bagunça igual aqui no Brasil. Aí faço um contraponto: a corrupção foi descoberta em um momento, com esta ação da Polícia Federal, mas não é de agora. Vamos lembrar o Paulo Francis, que era de posição política neoliberal, e fez uma acusação durante o governo Fernando Henrique de fortes irregularidades na Petrobras. Não foi comprovado, ele inclusive morreu processado pelo pessoal da Petrobras. Mas ficou a pulga atrás da orelha. Isso parece que é um esquemão que se propagou, se manteve ao longo de várias administrações. Mas que pode ser diferente, pode. Não vejo nenhuma necessidade de botar gente ligada a partidos para dirigir a empresa. Isso é um preço a pagar para composição de governo. Ficou aquela história que vale tudo para compor maioria no Congresso. Isso é deplorável. Aquela história do PTB nos Correios também era horrível. Pode ser diferente, tem que ser resolvido. Essa é a vantagem desse escândalo, que botou a história em evidência, e não há alternativa que não mudar essa prática. Acho que a Dilma é a pessoa adequada para fazer isso. Porque ela tem se manifestado com bastante rigor com relação a essas irregularidades. Se for coerente com o que está dizendo, ela terá que corrigir isso e tirar essa banda podre de dentro da Petrobras. Isso é o ponto número um. E botar a Petrobras para funcionar. Até o momento, ela funcionou na parte de exploração no mar. Mas no refino, não. Acho então que vai ter que botar a Petrobras nos eixos, fazer uma limpa nisso que foi descoberto e botar gente técnica competente, que se dedique.
O sr. acha que a diretoria de governança, recém-criada pela empresa, pode resolver?
Não, é só mais advogado, mais procurador... O Brasil já é o país dos advogados, dos procuradores. Você abre a geladeira e sai um lá de dentro, liga TV e sai outro. É um país travado, uma confusão de procedimentos. O TCU resolveu alguma coisa? A CGU descobriu alguma roubalheira? Quem descobriu foi a Polícia Federal, que é outra coisa: investiga a pessoa, tem poder de polícia. Agora, essas coisas, para mim, servem para arrumar emprego para advogado.
Mas qual seria a solução?
Eu não sei te dizer. Acabar o loteamento político e botar gente séria, punir as infrações devidamente... Tem que botar gente bem escolhida, profissional, para fazer a gestão da empresa. Como os caras que estão lá no mar, buscando petróleo a cinco mil metros, os caras do bureau tem que fazer o trabalho direito. Agora, isso é um problema de moralidade pública. Nos remete ao Stanislaw Ponte Preta: “Ou se restabelece a moralidade, ou nos locupletemos todos”. Tem que restabelecer a moralidade.
O sr. acha que a presidente da empresa ainda tem condições de continuar?
Eu não vi nada contra ela. Nada do que eu li na mídia é contra ela. Agora, a sustentação dela vai depender da Dilma. Ela tem uma relação com a Dilma. Acho que há uma probabilidade não nula de ela continuar. Você pode dizer: “Ah, mas o princípio do domínio do fato, que foi usado no mensalão...”, essas frases jurídicas que não fazem sentido... Mas tudo isso que está sendo investigado vinha de antes.
O sr. deixou a presidência da Eletrobrás sob o argumento de que não garantia votos no Congresso...
Primeiro, houve um entusiasmo no início do governo Lula, um governo de esquerda, que tinha expectativa de mudança grande. Mas, depois, tinha que governar, tinha a realidade de lidar com o Congresso, essas coisas... Quando começou essa conversa eu falei: “Não. Tchau.” Cargos desses são provisórios mesmo. E se o problema é uma composição política, eu saio. Nem podia ser de outro modo, porque o cargo é do presidente. E antes que ele viesse dizer se essa frase atribuída a ele era real, pedi para sair.
Neste cenário, de necessidade de composição política, o sr. acha que é possível ter uma administração eminentemente técnica nessas áreas de governo?

Acho. É possível. Se vão fazer isso, não sei. Fica no terreno da política. Setores da Petrobras funcionaram perfeitamente bem, enquanto estava essa bagunça toda se desdobrando. A parte de produção de petróleo estava funcionando em condições adversas, com profundidades enormes. Isso mostra que há um lado sadio. E, se há um lado sadio, porque o todo não é sadio? Por hipótese, pode ser. Acho que isso deverá ser feito. Até por decisão política, para limpar um pouco essa imagem horrível que se criou. Acho que a Petrobras deverá ser passada a limpo.
O sr. fica espantado com essa realidade?
Espantadíssimo, claro. O gerente dos R$ 100 milhões me deixou perplexo, porque R$ 100 milhões é muito dinheiro. Fiquei espantado com a naturalidade. Isso é muito ruim para a imagem da empresa. E acho que falta um pouco, não sei se por falta de informação, uma reação à altura do próprio sindicalismo. Não se diferenciou, não se indignou. Isso exige indignação. Tem que fazer um movimento, imprimir panfleto...
Talvez por uma percepção de que estariam atacando um governo de esquerda...
Não acho que é um problema de atacar o governo, mas de atacar os problemas revelados. Repito: se pegar a denúncia do Paulo Francis, foi durante o governo Fernando Henrique, sendo ele um simpatizante do Fernando Henrique. Não provou nada, mas devia ter alguma razão, porque não era um doido varrido. Então acho que esse germe existe há muito tempo. E esse germe precisa ser esterilizado. Para os jovens que vão trabalhar na Petrobras, a Petrobras era uma empresa preferencial. Agora, se alguém fala que vai trabalhar na Petrobras: “Mas que horror!”. Uma empresa vive também desse imaginário e a Petrobras tem que recuperar isso. E tem que fazer isso logo.
Há uma linha de defesa dos acusados que diz que as empresas foram achacadas e não tiveram opção...

Na verdade, não dou muito crédito a isso, que um lado era bonzinho e o outro, mau. É natural que a defesa vá alegar essas coisas, isso faz parte do jogo. Mas nessa escala que está aí demonstrada, acho que é um processo viciado. A surpresa é ter chegado a tal ponto. Essa é a surpresa. Acho que é possível agir com mão forte, botar pingos nos is, afastar os caras, evitar essa protelação brasileira, de que tudo vai sempre sendo empurrado adiante e tal.
Um pouco antes da posse de Lula no primeiro mandato, havia um grupo muito identificado com a formulação de políticas energéticas, que era a própria presidenta Dilma, o sr., Maurício Tolmasquim (hoje presidente da Empresa e Pesquisa Energética) e Ildo Sauer (que ocupou a Diretoria de Gás e Energia da Petrobras). Desses, apenas Dilma e Tolmasquim permanecem.  O sr. e o Ildo saíram e adotaram uma postura crítica ao governo. O que provocou esse racha?
Bom, eu saí antes do Ildo. Saí porque... Não atribuo à Dilma, como alguns fazem. Saí por essa coisa política. Havia uma ideia de composição mais partidária e eu não me identificava com isso. A saída do Ildo foi no fim do mandato do Lula. Também creio que foi mais ou menos a mesma coisa. Mas ele centrou um pouco a discussão com a Dilma, coisa que eu não fiz. Eu discuti com a Dilma, mas não acho que saí por causa disso. Poderia ter ficado discutindo a vida toda.
Mas aquele modelo, que vocês tinham pensado lá em 2002, foi colocado em prática?
Não. Não digo que está tudo errado, mas acho que não foi feito o necessário. Ficou em débito, não era bem isso o que a gente queria. Agora tem que deixar claro que a minha posição era mais à esquerda do que a da Dilma. Mais estatizante. A Eletrobras seria muito mais forte, iria levar adiante uma política de construção de usinas hidrelétricas e iria operar essas usinas. A Eletrobras seria a Petrobras do setor elétrico, para usar uma expressão que foi dita por mim e por outras pessoas na época. Uma empresa forte, executando projetos. Ela até fez um pouco, a Eletrobras não é um zero à esquerda. De uma maneira ou de outra está envolvida nos empreendimentos de Jirau, Santo Antonio, Belo Monte, nós ampliamos Tucuruí. O que foi a razão de uma briga minha com o Joaquim Levy (novo ministro da Fazenda, indicado na semana passada), porque ele não queria liberar o investimento. Não era preciso dinheiro do governo, era dinheiro da Eletrobras, mas ele não queria deixar a gente gastar o dinheiro da empresa, por causa do superávit primário. A Eletrobras fez, mas deveria fazer mais, ter mais controle. Ela é sócia minoritária. Ela entra em tudo e não manda em nada. Isso pra mim não faz sentido, uma empresa grande não pode ser assim.
O que o sr. avalia que está errado no modelo?
A Eletrobras entrar sempre como minoritária. Se somar na obra de Jirau e Santo Antonio, as participações de todas as empresas do grupo Eletrobras, ela controlaria os empreendimentos. Mas ela é minoritária em tudo.
Por que?
Porque pode manter a Lei 8.666 (a Lei das Licitações), uma das maiores imbecilidades brasileiras. É uma lei da roubalheira. Essa lei não é do bem. E como mantém-se a lei, se a Eletrobras é minoritária, o empreendimento pode operar como uma empresa privada e não precisa ficar pedindo para o Joaquim Levy para comprar lápis. Isso é uma debilidade mental. Ninguém consegue operar uma empresa desse jeito. A moralidade não se estabelece por aí, catando canhoto de viagem etc.
Mas a Petrobras não tinha instrumentos de controle para evitar a corrupção?
Pelo que entendo, a coisa funcionava assim: eu faço uma obra, contrato uma empresa que vai fazer a obra pra mim. Nesse contrato, já se admite um valor superior ao que vai custar a obra. E esse valor vai para o contratado e depois é distribuído. Como controlar isso? Provavelmente, pode haver um sistema de controle dos custos de uma obra. Agora, uma obra como essas que estamos falando, não é fácil. Porque não se faz todo dia, são ímpares. A Abreu e Lima, um troço daquele tamanho, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro... São coisas difíceis. Tem que lidar com gente honesta e o controle tem que estar disseminado, todo mundo controlando todo mundo, uma cultura de controle. Vocês lembram do discurso do (Dwight) Eisenhower, quando deixou a Casa Branca e falou nos parafusos de mil dólares? Eram parafusos de mil dólares porque eram para a Defesa. Era o mesmo parafuso da loja de ferragem, mas quando era para a Defesa, valia mil dólares.
Temos aqui o parafuso de refinaria e o parafuso de hidrelétrica...
É, começaram a inventar que isso é especial ou aquilo é especial. Tem que ter essa cultura de disseminar o controle, tem que ser um pouco idealista nisso, no sentido de carregar a tropa e tal.
Fala-se que no setor elétrico pode ser a mesma coisa. Afinal, são as mesmas empreiteiras. O sr. acha que é?

Não vou dizer que sim, nem que não, até que haja uma denúncia concreta. No meu caso, eu tinha um diretor financeiro que era uma fera, um cara ultrarrigoroso, que me arrumava uma porção de brigas, não recebia políticos e isso me deixou até hoje tranquilo. O Alexandre Magalhães da Figueira, um cara que era daqui da universidade, se aposentou e foi trabalhar no mercado financeiro. O Lula conhecia o Alexandre, lá do tempo do movimento sindical, o Alexandre tinha sido, comigo e com o Mercadante, dirigente da Associação Nacional dos Docentes. E o convenci a ir a Eletrobras, foi para lá, sentou lá como um buldogue e eu acho que fiquei muito protegido.
E o nó do setor elétrico?
Tem jeito, mas é outro nó. O nível dos reservatórios... (faz um gráfico mostrando a curva da energia armazenada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste). Se pegar este ano o negócio andou assim, abaixo da curva de 2001, o ano que criou problema para o Fernando Henrique. Nós estamos bem mal. Agora, você imagina, vai começar o ano de 2015 baixo demais. Então, nós certamente vamos ter problemas no próximo ano, porque está começando muito baixo. A não ser que venha uma chuva excepcional.
Mesmo com parque térmico instalado?
Numa situação normal, nossa composição da geração é aproximadamente 80% hídrico e 20% térmico e outros. Mas é basicamente hídrico. Este ano, foi 60% hídrico e 40% térmico e outros. Nós provavelmente vamos repetir a dose no ano que vem. Tem térmica, mas elas são caríssimas. Nossas térmicas são altamente ineficientes, porque são feitas para não funcionar. Então a lógica do empreendimento é baixo investimento e alto custo do combustível, que paga quando precisa. Mas nós estamos precisando e provavelmente vamos repetir a dose no ano que vem.
Isso tem solução?

A solução é ter mais usinas. Até agora, a solução foi dada, nós não ficamos sem luz. Mas o preço foi absurdo. A cultura do setor elétrico brasileiro é hídrica, tem lá seus modelos matemáticos, mas é tudo hídrico. E a gente tem que mudar a cabeça para um sistema, no mínimo, hidrotérmico. Como a gente tem reservatórios grandes ainda, a eólica, que está crescendo muito, pode ter um papel. Porque toda vez que tiver vento, gera eólica e segura as turbinas para encher o reservatório. Eu acho, neste ano de 2014, talvez eles tenham errado. Se tivessem antecipado um pouco as térmicas, estaríamos em uma situação mais confortável. Porque chegou a ponto de ter que cortar algumas turbinas porque o nível das águas está crítico. Se antecipasse um pouco, talvez isso não tivesse acontecido. Acho que aí houve um erro.
Ficamos esperando a chuva...

É, rezando para chover. Mas este ano foi um ano ruim.
Quando o sr. fala em planejamento hidrotérmico, a ideia é que alguma coisa gere na base?
A gente vai ter que ter um programa de expansão no qual o critério da térmica não seja como é hoje, que o que interessa é o baixo investimento. Vamos ter que ter uma operação maior delas. E ter térmica de maior qualidade. Primeiro, o gás natural é melhor. Segundo, sendo gás natural, que seja ciclo combinado, uma turbina a vapor e uma a gás, fechando o ciclo.
Por que se fala tão pouco em microgeração e eficiência, como, por exemplo, na Europa?

Na Europa, é mais fácil porque estão com a população mais estagnada. Aqui, o crescimento populacional ainda pressiona. Mas o smart grid, botar coletores solares, aproveitar energia quando sobra de uma casa e jogar na rede é uma boa ideia, que o mundo está entrando agora. Precisamos olhar para isso. Nós não usamos solar para nada. Devia ter uma política voltada para solar. Coletores nos edifícios, montar uma indústria de coletores no Brasil, ao invés de comprar dos chineses. Falta uma política industrial.
O sr. citou uma discussão com o Joaquim Levy sobre investimentos. Acha que, com ele na Fazenda, teremos menos investimentos?
Ele vai ser obrigado a ceder. Senão ele para o Brasil, porque o Brasil já está quase parando. A não ser que haja um boom econômico e o setor privado volte a um dinamismo muito grande, que é o que todo mundo quer. Mas aí, temos outro problema, porque vai precisar de mais energia elétrica. Este ano de 2014 foi de baixíssimo consumo industrial. Se houver atividade econômica mais intensa, a curva de energia armazenada se altera também, porque a água vai ser mais usada.
E aí teremos racionamento?
Ou mais termelétrica.
Mas corremos o risco de racionamento?
Corremos. Nós corremos este ano. Houve um momento em que o pessoal ficou preocupado. Mas eu acho que aí também houve um erro. Poderia ter sido feito um racionamento programado, discutido, não a imposição, como em 2001, de corte para quem não reduzisse em 20% seu consumo. Tinha que ser feito um programa de conscientização. E outra coisa: estabelecer limites no uso do ar condicionado. Ele é usado em temperaturas absolutamente abomináveis, você entra e fica com frio. É uma cultura do desperdício. E isso é fácil de fiscalizar. Nas residências privadas, é impossível, mas no comércio e nos serviços, onde está a maior parte do consumo, é possível fiscalizar. Estou falando uma maluquice? Não, o Japão faz isso. É proibido botar o ar condicionado em uma temperatura muito baixa.