segunda-feira, 30 de junho de 2014

Região Norte ganha 35% da fatia de poupadores em três anos
Por Taís Laporta - iG São Paulo | 30/06/2014 09:00
Economistas atribuem forte crescimento econômico e mais empregos formais como causas da recente inclusão financeira onde 50% da população não é bancarizada
A região Norte ganhou representatividade de 35% no número de pessoas com caderneta de poupança ante outras regiões do País em apenas três anos. Os dados são da Caixa Econômica Federal, que detém 60% da captação líquida destas aplicações.
Reuters
Trabalhadores na linha de produção de ar-condicionado da Gree, em Manaus
Professores especializados na economia da região apontam o crescimento econômico e a geração de empregos formais nos Estados do Amazonas, Pará e Rondônia como principais motivos da inclusão financeira.
Essa guinada de poupadores superou, inclusive, o percentual de crescimento da população dos cinco Estados da região em três anos. Entre 2010 e 2013, a quantidade de habitantes do Norte cresceu 7% – de 15,8 milhões para 16,9 milhões.
Embora a base de poupadores do Norte tenha crescido, eles ainda são minoria absoluta frente às outras quatro regiões brasileiras. Representam apenas 4,97% (2,7 milhões) dos 55 milhões de clientes com caderneta na Caixa. O Sudeste ainda é campeã com folga, com 46% das contas.
Enquanto isso, o Norte divide com o Nordeste a liderança dos chamados não bancarizados no País, com 50% e 53% de pessoas excluídas do sistema financeiro, respectivamente, segundo pesquisa divulgada no ano passado pelo instituto Data Popular.
Amazonas e Pará lideram crescimento industrial no País
Na opinião do professor de economia da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) Mauro Thury, o aumento da inclusão bancária no Norte pode ser explicado pela rápida guinada econômica da região nos últimos anos.
“O crescimento da indústria de transformação [que converte matéria-prima em manufaturados] na Zona Franca de Manaus ajudou a gerar empregos formais e pode ter relação direta com essa melhoria do acesso bancário”, analisa o docente.
Em abril, o Estado do Amazonas registrou um saldo de empregos de 3,22% no acumulado de 12 meses, mostram os dados mais recentes do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego.
No mesmo mês de 2013, a evolução do mercado de trabalho havia sido de 2,55% no Estado e, em abril de 2012, houve uma disparada de 6% frente aos 12 meses anteriores.
Também a produção industrial tem apresentado avanço expressivo. De janeiro a abril de 2014, ela cresceu 7,3% no Amazonas, terceiro melhor desempenho no País.
O resultado mais expressivo do primeiro trimestre, contudo, foi no Pará – o segundo maior polo de desenvolvimento da região –, com alta de 13% na produção, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No mesmo período, o desempenho nacional da indústria foi negativo em 1,2%. O Amazonas teve a segunda melhor colocação do País (7,2%) no acumulado de 12 meses até abril, enquanto a média nacional foi de 0,8%.
O professor de economia da UFAC (Universidade Federal do Acre) Lucas Araújo Carvalho destaca que o desenvolvimento industrial nos arredores de Manaus tem gerado prosperidade à região, mas não se pode subestimar os investimentos direcionados ao Estado do Pará.
“Hoje a economia paraense cresce em ritmo acelerado graças a grandes projetos agroindustriais e de extração mineral. O interior do Estado tem acompanhado esse ritmo de crescimento”, observa Carvalho.
O economista também cita Rondônia como Estado que ganhou destaque pela produção agropecuária, passando a competir com grandes produtores nacionais. “A força desta atividade tem ajudado o progresso da região e pode explicar o aumento de renda da população”, aponta.
Bancos flutuantes alcançam áreas inexploradas
Thury, da Ufam, cita como outra possível causa do aumento de poupadores um esforço maior das instituições financeiras em alcançar áreas habitadas onde o atendimento bancário é inexistente e nunca se viu um caixa automático sequer.
“A presença de casas lotéricas e postos de atendimento onde antes não se notava pode estar ajudando no acesso aos bancos pela população”, acredita o professor.
Outro exemplo são as agências flutuantes que, desde 2009, navegam por comunidades ribeirinhas da região amazônica. Em maio deste ano, o Bradesco inaugurou seu segundo barco para atender 50 vilarejos e 11 cidades nos entornos do rio Solimões.
O passeio rendeu ao banco a abertura de 35 mil contas bancárias e 4,5 milhões de operações financeiras. A primeira agência fluvial do banco foi inaugurada em dezembro de 2009.
A Caixa também embarcou na ideia em 2010. Inaugurou sua primeira agência flutuante em Manaus, circulando por uma área de 124 quilômetros quadrados entre a capital amazonense e a cidade de Coari (AM).
Há pelo menos 50 anos bancos flutuantes têm cruzado rios na Tailândia. O Thai Government Savings Bank (GSB) navega pelo Chao Phraya, em Bancoc, oferecendo serviços financeiros à população.
Carvalho, da UFAC, observa que é justamente nestas regiões do interior onde o progresso econômico ainda não chegou. “Apesar do forte desenvolvimento nas zonas industriais, o interior do Amazonas ainda é muito pobre”.

Mulheres da República Centro-Africana estão entre as centenas de milhares de deslocados pelo conflito no país. Foto: ACNUR/F.Noy -
Novos conflitos na República Centro-Africana forçam o deslocamento de milhares de civis
30 de junho de 2014 · Notícias  - ONU

Mulheres da República Centro-Africana estão entre as centenas de milhares de deslocados pelo conflito no país. Foto: ACNUR/F.Noy -
A agência da ONU para refugiados informou, nesta sexta-feira (27), que milhares de pessoas estão fugindo da violência em torno da cidade de Bambari, na República Centro-Africana. Os ataques já deixaram pelo menos 45 pessoas mortas e dezenas de feridos. A cidade fica a 380 quilômetros da capital, Bangui, e foi atacada na segunda-feira (23), quando um grupo armado invadiu um acampamento muçulmano de etnia Peul.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) disse também que o ataque foi uma retaliação contra grupos armados e a população civil, afirmando que Bambari havia sido reduzida a uma “cidade fantasma”.
“Grupos armados continuam lutando e atacando a população local. Dezenas de pessoas foram mortas ou feridas  e centenas de casas, destruídas”, disse a porta-voz do ACNUR, Melissa Fleming, lembrando que milhares de pessoas precisam urgentemente de abrigo, água, alimentos.
Desde dezembro de 2013 cerca de 140 mil pessoas da República Centro-Africana buscaram refúgio em Camarões, na República Democrática do Congo, na República do Congo e no Chade para escapar da violência no país.


Desigualdade nos EUA acende alerta de milionários que temem uma revolta
Para o plutocrata bilionário Nick Hanauer, se a desigualdade continuar galopando como vem acontecendo há décadas, as consequências podem ser desastrosas
Heloísa Villela heloisa.vilela@brasileconomico.com.br
As forquilhas vêm aí, atrás de nós plutocratas. Com esse título, o artigo deve ter chamado a atenção do público alvo: os milionários e bilionários dos Estados Unidos. Nick Hanauer, autor do texto com título nada sutil, é um deles. Um chamado plutocrata. Ganha uma fortuna, faz tempo, financiando ideias que ele percebe que serão bem-sucedidas. Um exemplo para não deixar dúvidas: ele foi o primeiro empresário que investiu na nascente Amazon, hoje a maior potência de vendas na internet que começou apenas com livros e já provocou o fechamento de várias livrarias do país.
Hanauer fez uma defesa contundente da necessidade de se atacar o maior problema dos Estados Unidos: a desigualdade. Mas não argumentou pelo lado da justiça social. Não apelou para o humanismo. Com certeza, conhece melhor o público alvo, os colegas endinheirados. Por isso mesmo começou logo dando alô aos demais representantes da exclusivíssima casta dos 0,01% mais ricos do país. Ele atiçou o medo. A possibilidade de que toda essa desigualdade provoque, como historicamente costuma provocar, uma rebelião. Uma explosão de insatisfeitos nas ruas dos Estados Unidos.
Me fez lembrar Richard Eskow, atual blogueiro e ex-funcionário de Wall Street na área de tecnologia. Leitor de Paulo Freire, em junho do ano passado ele perguntava: “afinal, aonde está a revolta? ”, se referindo à aparente tranquilidade na superfície da sociedade norte-americana, apesar das dificuldades que a maioria da população enfrenta. Por telefone, Eskow descreveu um cenário preocupante. Um ano antes do artigo de Hanauer ser publicado na revista dirigida aos empresários e ricos, ele disse que a crescente concentração de renda nos Estados Unidos pode acabar em um movimento niilista, destrutivo, de desdobramentos imprevisíveis.
Eskow e Hanauer com certeza ocupam lugares bem distintos no espectro político-ideológico. Por isso mesmo chama a atenção o fato de estarem preocupados com o mesmo tema e com a mesma possibilidade: a briga violenta por mudanças no sistema. Foi por isso mesmo que agora Hanauer decidiu soar o alerta. Destacando as próprias qualidades de empresário bem sucedido porque foi capaz de ver um pouco adiante e um pouco mais rápido do que os outros, ele mirou no horizonte e viu o fim da situação privilegiada dele mesmo e dos colegas de classe. Hanauer foi direto ao coração do problema: a chamada política do “trickle-down economics”. O mantra adotado no governo Reagan, nos Estados Unidos, e na Grã-Bretanha de Margareth Thatcher, segundo o qual se a forma de bolo dos ricos crescer bastante, a massa acaba transbordando e pingando sobre a turma do andar de baixo, melhorando a situação dos que estão na pior.
Hanauer destacou que nos últimos 60 anos, o salário médio dos empresários era 30 vezes maior do que o dos trabalhadores. Hoje, é 500 vezes superior. Ou seja, o bolo cresceu um bocado para os do andar de cima. Mas a situação da maioria só piorou. E não adianta, diz ele, dar mais dinheiro a quem já tem tanto porque os ricos não vão consumir ainda mais do que já consumem. Não vão comprar mais carros, mais roupa, mais pares de sapato. O dinheiro vai para a poupança e para investimentos no mercado financeiro que não criam riquezas nem geram empregos. A primeira providência, defendeu, é aumentar o salário mínimo e transformá-lo em salário de vida e não salário de fome. Ao mesmo tempo, aumentar os impostos dos ricos para investir na educação e na infraestrutura do país.
O discurso de Hanauer não cai nada bem entre os colegas privilegiados. Ele foi convidado para apresentar as ideias em uma palestra do TED e, por motivo ignorado, a palestra não foi divulgada no site do TED na internet, como todas são. Ele não se deu por vencido. Agora, distribui artigos como o que acaba de publicar no politico.com e criou uma fundação chamada Rede do Verdadeiro Patriota para difundir as ideias que defende. Hanauer não usa subterfúgios. Ele deixa claro que está lutando pela própria sobrevivência e pela manutenção dos privilégios que tem hoje. Para o plutocrata bilionário, se a desigualdade continuar galopando como vem acontecendo há décadas, as consequências podem ser desastrosas. E ele já vê os primeiros sinais de problema, como destacou: “Muitos de nossos compatriotas já começam a acreditar que o problema é o capitalismo em si. Eu discordo, e tenho certeza que você também. O capitalismo, quando bem administrado, é a melhor tecnologia social já inventada para criar prosperidade em sociedades humanas. Mas o capitalismo sem freios tende à concentração e ao colapso. Ele pode ser administrado para beneficiar uns poucos no curto prazo ou muitos no longo prazo. A tarefa da democracia é forçar a balança na direção do segundo. É por isso que o investimento na classe média funciona. E redução nos impostos para ricos como nós não. Equilibrar o poder entre os trabalhadores e os bilionários elevando o salário mínimo não é uma má ideia para o capitalismo. É uma ferramenta indispensável dos capitalistas inteligentes para tornar o capitalismo mais estável e sustentável. E ninguém tem mais interesse nisso do que nós zilionários”.
Há um ano, quando Hanauer começou a falar de um salário mínimo de US$ 15,00 por hora (ele hoje está em US$ 7,25), a revista Forbes o chamou de louco. Mas Seattle, onde Hanauer mora, passou justamente os US$ 15,00 por hora que ele vem defendendo. Aqui, existe um patamar mínimo, estabelecido pelo governo federal. Mas estados e municípios podem adotar seus próprios mínimos. E para arrematar a conversa, o bilionário lembrou que as duas cidades do país que tem os salários mínimos mais elevados (Seattle e São Francisco) são justamente as que mais estão crescendo economicamente.
Para os que ainda não se convenceram da necessidade de mudança, ele usou um dos símbolos da Revolução Francesa: “nós podemos relaxar, não fazer nada e curtir nossos yachts. E esperar pelas forquilhas”.

sexta-feira, 27 de junho de 2014


Comitiva brasileira avaliou as versões C e D da aeronave, as mesmas que o Brasil poderá receber antes dos novos Gripen NG

GRIPEN

FAB conhece operação do caça na África do Sul


Publicado: 27/06/2014 14:23h

"Eles estão bastante satisfeitos". A frase é de um militar da Força Aérea Brasileira que entre os dias 17 e 21 de junho conheceu de perto a operação das aeronaves Gripen na Força Aérea da África do Sul. Ele fez parte de uma comitiva de nove integrantes que visitou a Base Aérea de Makhado, onde aquele país tem um esquadrão de aeronaves Gripen das versões C e D, as mesmas que o Brasil poderá receber antes dos novos Gripen NG.

Foram avaliados aspectos como a operação da unidade aérea, o trabalho de manutenção, o suporte dado pelas empresas suecas e a integração da indústria sul-africana ao projeto. Hoje, o país produz, por exemplo, a munição de 27 mm para os canhões. Também são fabricados localmente itens da estrutura dos aviões e equipamentos de rádio.

A visita brasileira incluiu a realização de dois voos de pilotos brasileiros acompanhados por aviadores sul-africanos. A comitiva foi recebida no país pelo Comandante da South African Air Force (SAAF), Lieutenent-General Fabian Msimang, e incluiu representantes do Comando-Geral de Operações Aéreas (COMGAR), do Comando-Geral de Apoio (COMGAP), do Departamento de Ciência e Tencologia Aeroespacial (DCTA) e da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC).

Negociações em andamento
A Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), órgão da FAB responsável por projetos de aquisição e modernização de aeronaves, trabalha atualmente com dois projetos simultâneos: Gripen NG e Gripen C/D.

O primeiro trata da aquisição de 36 aeronaves novas, selecionadas no chamado Projeto F-X2. Já o segundo surgiu após a oferta do Governo da Suécia para que o Brasil recebesse as versões atuais do Gripen, C e D, semelhantes às utilizadas pela África do Sul, como solução temporária até a chegada dos caças novos.

Ambos os projetos estão em fase de negociação e a expectativa do Comando da Aeronáutica é de que os contratos sejam assinados em dezembro de 2014, quando serão acertados detalhes como número de aeronaves das versões C e D, armamentos, apoio logístico e pagamento. Já em 2015 deve começar o treinamento de militares da FAB na Suécia.

 

Apresentação da aeronave AS 365 K2 – Super Pantera ao Comandante do Exército
Brasília – Foi apresentada ao Comandante do Exército, em 25 de junho, a aeronave AS 365 K2 – Super Pantera. Essa aeronave é o resultado do processo de modernização, ora em curso, da aeronave AS 365 K – Pantera, por meio de contrato firmado entre o Comando Logístico/Diretoria de Material de Aviação do Exército e a empresa Helibras SA. A passagem desse helicóptero por Brasília teve por objetivo atender ao programa de Avaliação Técnico-Operacional, programa que tem a finalidade de avaliar a aeronave tecnicamente quanto ao desempenho estabelecido em contrato e a seu desempenho operacional.
Comparando-a com o modelo anterior, já foi comprovado um aumento de 400 kg na carga paga na operação em área restrita (de 3.900 kg para 4.300 kg), maior velocidade (260 km/h contra 220 km/h) e alcance (660 km contra 550 km), proporcionando, assim, ganhos efetivos para a Força Terrestre.

Ucrânia considera “histórico” acordo com a União Europeia

Agência Brasil

O presidente ucraniano, Petro Porochenko, considerou hoje “dia histórico” para o país a assinatura de um acordo de associação com a União Europeia (UE), que oferece novo início após anos de instabilidade política. “Trata-se de um dia histórico para o meu país, o mais importante desde a independência” em 1991, declarou ao chegar a Bruxelas. O acordo, que inclui a Ucrânia, Geórgia e Moldávia, foi firmado antes do início do segundo dia de trabalho do Conselho Europeu.

A iniciativa, que sela a aproximação política e econômica com a UE, oferece "perspectiva completamente nova para o país”, lembrou Porochenko, elogiando a “solidariedade” demonstrada pelo bloco dos 28 no quadro da crise ucraniana. “Trata-se do resultado de sete anos de trabalho”, disse ele, acrescentando que pretende “aproveitar a oportunidade para modernizar o país”.

A assinatura da parte remanescente do acordo de associação com a Ucrânia e a dos acordos de associação da União Europeia com a Geórgia e a República da Moldávia marcam o início da cúpula europeia.

O acordo firmado com os três países “é positivo e não é contra ninguém”, destacou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, referindo-se à oposição de Moscou a essas parcerias.

O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, considerou este “um grande dia para a Europa”.

A Rússia alertou “para as sérias consequências” dos acordos de associação. 

 

A Copa e o mundo

O francês Pascal Boniface, autor do livro “Geopolítica do Esporte”, diretor do Instituto de Estudos Estratégicos e de Relações Internacionais, diz que na Copa do Mundo, os pés são a continuação da política por outros meios

Florência Costaflorencia.costa@brasileconomico.com.br

Em um artigo publicado em maio pelo Le Figaro, ele constata: “O esporte é a forma mais visível para mostrar as bandeiras e de os países existirem aos olhos dos outros”.

O futebol sempre foi um poderoso instrumento do chamado “poder brando”, termo criado por Joseph Nye, professor de Harvard e um dos grandes nomes das Relações Internacionais. Trata-se da habilidade de influenciar os outros a fazer o que você quer. Um Estado, por exemplo, pode exercer influência externa através de instrumentos variados, como a sua cultura. No caso do Brasil, o seu futebol.

São incontáveis os casos em que o futebol se mistura com a política. No Irã, as mulheres - obrigadas a usar o véu que cobre os cabelos e impedidas de entrar em estádios – já desafiaram os aiatolás algumas vezes, impondo suas presenças nas arenas futebolísticas para ver a sua seleção jogar, segundo narra o jornalista Franklin Foer em seu livro “ Como o Futebol Explica o Mundo: um olhar inesperado sobre a globalização”. Há poucos dias, Lionel Messi foi cumprimentado pelo grupo jihadista sunita Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Isis, na sigla em inglês), na sua conta do Twitter. Eles ficaram felizes da vida com o gol do craque argentino que derrotou a seleção do xiita Irã, inimigo de morte dos terroristas sunitas no Iraque.

A imprensa nigeriana que está no Brasil cobrindo a Copa usou o futebol para mandar um recado ao mundo: distribuiu 250 camisetas com mensagens de protesto contra o Boko Haram, grupo terrorista islâmico que sequestrou mais de 200 moças para transformá-las em escravas. Contrários ao futebol por ser uma criação Ocidental, eles atacaram um local onde era transmitido o jogo do Brasil contra o México, deixando 7 mortos. Ficou para a história a gloriosa luta de resistência dentro do campo dos jogadores ucranianos do Dínamo de Kiev contra soldados nazistas na II Guerra Mundial, como lembra de forma brilhante o jornalista Andy Dougan no livro “Futebol & Guerra”.

Nos últimos 20 anos, países emergentes têm apostado cada vez mais na tática de sediar megaeventos esportivos como forma de se projetar internacionalmente. Desde que começaram os Jogos Olímpicos modernos, no século XIX, coube aos países ricos o papel de anfitrião. Os Jogos Olímpicos do Rio em 2016 serão os primeiros realizados na América do Sul.

Antes de começar a Copa, o Brasil vinha perdendo o jogo na construção de uma imagem positiva, com tantas notícias negativas da mídia internacional sobre atrasos nos preparativos do evento e sobre protestos contra os gastos da Copa. Mas, por sorte, a Copa tem sido eletrizante e surpreendente, com jogos de tirar o fôlego. A mídia internacional, antes tão mal humorada, agora começa a enaltecer a nossa Copa como histórica. “ Se a Copa no Brasil é para ser como esta, que todas sejam no Brasil”, disse Jason Davis do canal ESPN. Essa será a Copa mais vista de todos os tempos, transmitida para 214 países. Mas audiência global serve para evidenciar qualidades e defeitos.

Todos os países dos BRICS tem sediado grandes eventos esportivos. Com isso, vivenciam as glórias e os tropeços de dar passos ousados. Em 2008, foi a vez da China entrar para a berlinda, ao promover as Olimpíadas. Uma onda de protestos globais em defesa dos direitos humanos e contra a repressão no Tibete constrangeu os chineses. Manifestantes perseguiam a tocha olímpica no mundo todo, até ela chegar em Pequim. Preocupados com a poluição de Pequim, atletas americanos desembarcaram de forma dramática na capital chinesa: usando máscaras. Mas todo o clima de pessimismo se desfez a partir do dia da abertura dos jogos, com uma festa que embasbacou o mundo no estádio construído para lembrar o ninho de um pássaro.

O partido comunista chinês, no entanto, pagou caro pela festança que teve uma audiência recorde de 4,7 bilhões de espectadores: US$ 42 bilhões. Foram as Olimpíadas mais caras da história. Para arrematar o sucesso chinês, seus atletas conquistaram o maior número de medalhas de ouro (51). O governo chinês se projetou mais ainda como uma potência mundial e ainda conseguiu angariar mais apoio interno.

Em meados de 2010, foi a vez da África do Sul sediar a Copa do Mundo. Notícias de estádios incompletos e distúrbios sociais assombravam os noticiários antes do evento. Mas nada disso se concretizou. Em outubro daquele ano, a Índia sediou os Jogos da Comunidade Britânica. Nova Delhi recebeu seis mil atletas de 71 países. A mídia indiana e estrangeira cobriu cada detalhe e focou, é claro, nos problemas, que foram muitos.

Houve atraso nas obras, sujeira (com operários defecando nos apartamentos construídos para os atletas), desorganização e corrupção. Ameaças de boicote envergonharam os indianos. Os jogos custaram US$ 6,8 bilhões, os mais mais caros da história. No final, os jogos ocorreram sem problemas. Mas para o governo do ex-primeiro-ministro Manmohan Singh, o estrago na sua imagem já tinha sido feito.

Em fevereiro desse ano, a Rússia organizou, em Sochi, os Jogos Olímpicos de Inverno, os mais caros de todos os tempos: US$ 51 bilhões. Segundo denúncias publicadas na mídia internacional, metade dessa soma desapareceu em contratos suspeitos. Como sempre, os problemas do país foram analisados com lupa pela mídia internacional: ganhou destaque a controvérsia global sobre leis russas que proíbem propaganda gay. A mão forte de Vladimir Putin impediu protestos e os jogos ocorreram sem percalços.

Por serem empreitadas cada vez mais bilionárias, com retornos duvidosos, muitas cidades-candidatas a sediar esses eventos começam a titubear. Munique e Davos desistiram de bancar as Olimpíadas de Inverno de 2022 por causa da pressão contrária de seus habitantes. Estocolmo e Cracóvia também tiraram o corpo fora. Oslo, por falta de apoio político interno, e Lviv (Ucrânia), devido aos conflitos do país, estão em cima do muro. Restaram Pequim e Almaty (Casaquistão).

Há um grande debate no mundo sobre as vantagens e desvantagens desses grandes eventos internacionais esportivos. E o Brasil participa dessa discussão global com o seu exemplo na Copa. No dia seguinte à partida final no Maracanã, que será assistida pelos chefes de Estado do BRICS, eles seguirão para Fortaleza, onde fazem a sua sexta cúpula. Será uma ótima oportunidade para o Brasil dividir com a Rússia – que sediará a próxima Copa, em 2018 - e com os demais países, os problemas que teve com “ o padrão FIFA”.

 

segunda-feira, 23 de junho de 2014


Por que a 148ª Divisão Alemã se entregou somente aos brasileiros na Itália?

 

Escrito por Cel.Hiram Reis e Silva   
 
“Entretanto houve um trágico incidente: Um nosso soldado, num impulso de momento, não se conteve e arrancou a Cruz de Ferro do peito de um sargento alemão. O sargento, sem olhar para o soldado, pediu licença a seu comandante para sair de forma, pegou uma metralhadora em uma pilha de armas a seu lado e atirou no peito do brasileiro, largou a arma na pilha e entrou novamente em forma antes que todos se refizessem da surpresa. Por um momento ninguém sabia o que fazer. Já vários dos nossos empunhavam suas armas quando o oficial alemão sacou da sua e atirou na cabeça do seu sargento, que esperou o tiro em forma, olhando firme para frente. Um frio percorreu a espinha de todos, mas foi a melhor solução” - Concluiu Dionísio.
“Foi em abril de 1945. Os alemães tinham retraído da Linha Gótica depois da nossa vitória em Montese, e provavelmente pretendiam nos esperar no vale do rio Pó, mais ao Norte. Nosso Esquadrão de Reconhecimento, comandado pelo Pitaluga, os avistou na Vila de Collechio, um pouco antes do rio. A pedido do General fui ver pessoalmente e lá, por ser o mais antigo, coordenei a noite um pequeno ataque com o esquadrão e um pelotão de infantaria, sem intenção maior do que avaliar, pela reação, a força do inimigo. Sem defender efetivamente o local, os alemães passaram para o outro lado do rio e explodiram a ponte. Então observamos que se tratava de uma tropa muito maior do que poderíamos ter imaginado. Eram milhares deles e nós tínhamos atacado com uma dezena de tanques e pouco mais de cinquenta soldados”.
 
“Informamos ao comando superior que o inimigo teria lá pelo menos um regimento. O comando, numa decisão ousada, pegou todos os caminhões da artilharia, encheu-os de soldados e os mandou em reforço à pequena tropa que fazia frente a tantos milhares.” – ” Considerei cumprida a minha parte e fui jantar com o Coronel Brayner, que comandava a tropa que chegara” prosseguiu Dionísio. “Durante a frugal refeição de campanha, apresentaram-se três oficiais alemães com uma bandeira branca, dizendo que vieram tratar da rendição. Fiquei de interprete, mas estava confuso; no início nem sabia bem se eles queriam se entregar ou se estavam pensando que nós nos entregaríamos, face ao vulto das tropas deles, que por sinal mantinham um violento fogo para mostrar seu poderio”.
 
“Esclarecida a situação, pediram três condições: que conservassem suas medalhas; que os italianos das tropas deles fossem tratados como prisioneiros de guerra (normalmente os italianos que acompanhavam os alemães eram fuzilados pelos comunistas italianos das tropas aliadas) e que não fossem entregues à guarda dos negros norte-americanos”.
 
“Esta última exigência merece uma explicação: a primeira vista parece racismo. Que os alemães são racistas é óbvio, mas porque então eles se entregaram aos nossos soldados, muitos deles negros? Bem, os negros americanos naquela época constituíam uma tropa só de soldados negros, mas comandada por oficiais brancos. Discriminados em sua pátria, descontavam sua raiva dos brancos nos prisioneiros alemães, aos quais submetiam a torturas e vinganças brutais. É claro que contra eles os alemães lutariam até a morte. Não era só uma questão de racismo”.
 
“Eu perguntei ao interprete do lado alemão (nos entendíamos em uma mistura de inglês, italiano e alemão), por que queriam se render, com tropa muito superior aos nossos efetivos e ocupando uma boa posição do outro lado do rio. Ele me respondeu que a guerra estava perdida, que tinham quatrocentos feridos sem atendimento, que estavam gastando os últimos cartuchos para sustentar o fogo naquele momento e que estavam morrendo de fome. Que queriam aproveitar a oportunidade de se render aos brasileiros porque sabiam que teriam bom tratamento”.
 
“Combinada a rendição, cessou o fogo dos dois lados. Na manhã seguinte vieram as formações marchando garbosamente, cantando a canção ‘velhos camaradas’, também conhecida no nosso Exército”.
 
“A cerimônia era tocante” – prosseguiu Dionísio. “Era até mais cordial do que o final de uma partida de futebol. Podíamos ser inimigos, mas nos respeitávamos e parecia até haver alguma afeição. Eles vinham marchando e cada companhia colocava suas armas numa pilha, continuando em forma, e seu comandante apresentava a tropa ao oficial brasileiro que lhe destinava um
local de estacionamento. Só então os comandantes alemães se desarmavam. A primeira Unidade combatente a chegar foi o 36 Regimento de Infantaria da 9° Divisão Panzer Grenadier. Seguiram-se mais de 14 mil homens, na maioria alemães, da 148° Divisão de Infantaria e da Divisão Bessaglieri Itália que os acompanhava”.
 
“Entretanto houve um trágico incidente: Um nosso soldado, num impulso de momento, não se conteve e arrancou a Cruz de Ferro do peito de um sargento alemão. O sargento, sem olhar para o soldado, pediu licença a seu comandante para sair de forma, pegou uma metralhadora em uma pilha de armas a seu lado e atirou no peito do brasileiro, largou a arma na pilha e entrou novamente em forma antes que todos se refizessem da surpresa. Por um momento ninguém sabia o que fazer. Já vários dos nossos empunhavam suas armas quando o oficial alemão sacou da sua e atirou na cabeça do seu sargento, que esperou o tiro em forma, olhando firme para frente. Um frio percorreu a espinha de todos, mas foi a melhor solução” - Concluiu Dionísio.
 
Ao ouvir esta história, eu já tinha mais de dez anos de serviço, mas não pude deixar de me emocionar. Não foram as tragédias nem as atitudes altivas o que mais me impressionaram. O que mais me marcou foi o bom coração de nossa gente, a magnanimidade e a bondade de sentimentos, coisas capazes de serem reconhecidas até pelo inimigo. Capazes não só de poupar vidas como
também de facilitar a vitória. É claro que isto só foi possível porque os alemães estavam em situação crítica; noutro caso, ninguém se entregará só porque o inimigo é bonzinho, mas que a crueldade pode fazer o inimigo resistir até a morte, isto também é real. Na História Pátria podemos ver como Caxias, agindo com bondade, só pacificou, e como Moreira César, com sua crueldade, só incentivou a resistência até a morte em Canudos.
 
O General Dionísio e o interprete alemão – Major Kludge, se tornaram amigos e se corresponderam até a morte do primeiro, no início dos anos 90. O General Mark Clark, comandante do 5° Exército norte-americano, ao qual a FEB estava incorporada, disse que foi um magnífico final de uma ação magnífica. Dionísio disse apenas que a história real é ainda mais bonita do que se fosse somente um grande feito militar."

 

Agência da ONU assessora empresa paquistanesa que produz as ‘brazucas’, as bolas da Copa

23 de junho de 2014 · Destaque - ONU

 

A Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) estabeleceu o Instituto de Desenvolvimento de Produtos de Couro (LPDI) em 2001 no Paquistão, um centro de treinamento que tem ajudado as empresas desse setor a adquirir os conhecimentos e as habilidades necessárias para competir no mercado internacional.

Uma das empresas capacitadas pelo Instituto é a Forward Sports, fornecedora de bolas de futebol para a Adidas, que pela primeira vez ganhou a concorrência para produzir as bolas oficiais da Copa do Mundo de 2014. A empresa contou com a ajuda da agência da ONU para vencer a concorrência ao participar de um treinamento sobre produtividade e melhora na qualidade e condições de trabalho.

O aprendizado também se enfocou no uso de novas tecnologias para responder aos critérios impostos pelos compradores internacionais. A Forward Sports também se beneficiou do treinamento recebido por suas funcionárias, já que 90% das pessoas que trabalham na produção da Brazuca são mulheres.

De acordo com diretor executivo da empresa, elas são mais diligentes e minuciosas quanto ao trabalho. Para muitas, essa representa a primeira vez que uma mulher em seu núcleo familiar consegue um trabalho formal no setor industrial.

A empresa produzirá 3 mil bolas destinadas à competição e outras 2 milhões para a venda em todo o mundo. Esse acordo comercial permite que o Paquistão comece a reconquistar as encomendas perdidas para os rivais do leste e sudeste da Ásia e aumente sua produtividade.

Segundo o diretor executivo da Forward Sports, Khawaja Masood Akhtar, o Paquistão pode aumentar sua participação na produção mundial de artigos para futebol, dos atuais 18% para 50% em quatro anos.

Entretanto, junto com esta grande produção, ressurgem novos desafios para cumprir com as exigências dos compradores estrangeiros – e a ONUDI tem ajudado a conquistá-los. Até o momento, cerca da 1,4 mil trabalhadores de diferentes empresas se beneficiaram desse curso de capacitação.

 

 

Argentina no vale tudo dos EUA

Se não saciar a fome dos “abutres’,a Argentina oficialmente dará um calote nos credores, forçada pela justiça americana

Heloísa Villela heloisa.vilela@brasileconomico.com.br

A  Suprema Corte dos Estados Unidos deu de ombros ao governo da Argentina. E mais do que isso. Se julgou no direito de determinar que o lucro dos chamados fundos “abutre” tem precedência sobre decisões soberanas de um governo interessado em garantir a estabilidade econômica e o bem estar da população que o elegeu. E alguém poderia se surpreender com isso? No país que assaltou os cofres públicos para salvar a pele das instituições financeiras que levaram o mundo ao colapso de 2008-2009, nada mais coerente do que, mais uma vez, privilegiar o direito ao lucro, premiar a ganância.

Sim, porque aqui se trata, mais do que nada, da ganância de uma minoria. Como bem lembrou a embaixadora argentina em Washington, Cecilia Nahón, em artigo publicado na revista “Forbes”, o país passou por uma das piores crises econômicas de sua história em 2001-2002. A dívida pública chegou a representar 166% do PIB, o desemprego bateu em 21% e a receita clássica do FMI, calcada na privatização e no arrocho, não resolveu o problema. Ao contrário, o agravou. Hoje, quem passa apertado com a mesma velha fórmula é a Grécia. Mas o que fez a Argentina para sair do buraco? Entre outras medidas, renegociou a dívida externa impagável, contraída pela ditadura militar. A lógica, que convenceu 93% dos credores, é simples: com a reestruturação da dívida, a economia volta a crescer e os pagamentos, mesmo que em menor escala, ficam garantidos.

Foi o que aconteceu. O desconto de 70% do valor de face dos títulos da dívida externa argentina tornou possível garantir um fluxo de pagamentos e desonerar os cofres públicos, abrindo espaço para o crescimento. Desde então, a economia do país manteve crescimento constante. Mas no processo de reestruturação, os chamados fundos de investimento “abutre” apostaram no direito à ganância. Depois da moratória, compraram títulos da dívida argentina por uma ninharia, 10 centavos de dólar, e entraram na justiça exigindo o pagamento do valor total de face. Pois foram esses “abutres” que saíram ganhando, agora, após mais de uma década de briga nos tribunais dos Estados Unidos.

A Suprema Corte se recusou a ouvir o apelo do governo da Argentina. Portanto, ficou valendo a decisão do juiz federal de Nova York, Thomas Griesa, que dá prazo até o dia 30 de junho, uma semana a partir desta segunda-feira, para que Buenos Aires pague US$ 907 milhões dos US$ 1,3 bilhão que “deve” aos “abutres”, se quiser continuar usando o sistema financeiro americano. E é nos bancos dos Estados Unidos que a Argentina paga os juros da dívida renegociada. Agora, se não pagar a esses fundos, não poderá pagar o que deve aos que toparam a renegociação. Em outras palavras, se não saciar a fome desses “abutres”, a Argentina oficialmente dará um calote nos credores, forçada pela justiça americana. O juiz foi ainda um pouco mais longe. Também deu direito aos fundos de levantar os bens da Argentina no exterior para saber quanto e aonde está o dinheiro do país e assim reclamar parte dele.

A presidente Cristina de Kirshner já avisou que não se submeterá ao que chamou de extorsão. E calculou: se pagar o valor de face que os urubus exigem, dará a eles um lucro de 1.608%. “Nem o crime organizado”, disse ela, para lucrar assim. A Casa Rosada tem outros planos. Vai seguir as ordens da justiça americana na aparência dando o calote técnico. Mas ao mesmo tempo, vai tentar trocar os títulos atuais por novos, com a mesma estrutura, os mesmos prazos e valores, mas com local de pagamento diferente. A mudança de endereço para pagamento afastaria a Argentina dos bancos e da justiça americanos. Uma manobra que a própria Argentina já adotou no passado e a Grécia adotou recentemente. Na última sexta-feira, o mesmo juiz Griesa, que deu ganho de causa aos “abutres”, declarou que a mudança de jurisdição financeira da dívida argentina é ilegal.

A atitude da Suprema Corte dos Estados Unidos não é apenas um desrespeito a um país soberano. Mantendo a decisão do juiz federal de Nova York, ela abriu um precedente perigoso, que pode tornar impossível qualquer renegociação de dívida soberana que envolva o sistema financeiro americano. Cristina Kirshner já fala em enviar advogados a Nova York para negociar com os “abutres”. Mas sucumbir agora à chantagem jurídica de Tio Sam é um risco gigantesco. Ao pagar os “abutres”, ela pode se ver diante de uma enxurrada de processos dos demais credores que toparam a reestruturação da dívida no passado e vão se sentir prejudicados. Se esses fundos podem receber o valor total, por que não os outros?

A queda de braço diz mais a respeito do estado da justiça, nos Estados Unidos, do que das intenções do governo de Buenos Aires. A mesma Suprema Corte que, ao se recusar a ouvir os argumentos da Argentina, deu ganho de causa aos “abutres”, também decidiu, nos últimos anos, dar liberdade total ao poder econômico para ditar as regras do jogo político no país. Em 2010, os juízes supremos decidiram que o governo não tem o direito de restringir a independência política das corporações, associações e sindicatos. Trocando em miúdos, abriu a temporada do vale tudo no financiamento das campanhas políticas. A partir daquele momento, o limite da participação das grandes empresas nas campanhas eleitorais foi abolido.

É bom não esquecer, também, que essa mesma Suprema Corte decidiu, no ano 2000, suspender a recontagem dos votos da Flórida na eleição presidencial, o que garantiu a eleição de George W. Bush com apenas um voto de vantagem sobre Al Gore no colégio eleitoral.

 

Com o lastro da memória do apoio de Lula, as chances são claramente favoráveis a Dilma”, diz Reis

Foto:  Nelio Rodrigues

"É importante para Dilma que o povão sinta a presença de Lula"

Para o cientista político Fábio Wanderley Reis, a correlação entre os benefícios sociais e a política, criada a partir da eleição de 2006, é apontada como fundamental para entender os movimentos da eleição deste ano

Eduardo Mirandaeduardo.miranda@brasileconomico.com.br e Paulo Henrique de Noronhapaulo.noronha@brasileconomico.com.br

 

Quem quiser ganhar a eleição presidencial deste ano terá que conciliar, na campanha, políticas macroeconômicas efetivas com a continuidade do atendimento aos interesses da população mais pobre, sentencia o professor Fábio Wanderley Reis, doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard e docente emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em sua análise, a correlação estabelecida pelo governo Lula, a partir de 2006, entre programas sociais (como o Bolsa Família) e uma parcela considerável da população, será o maior desafio dos candidatos da oposição. “É algo muito forte, a ponto de as oposições não conseguirem encontrar um discurso alternativo”. Apesar de apontar erros estratégicos do governo Dilma Rousseff, como a dificuldade da presidenta para exercer liderança, Reis — estudioso de temas como a transição democrática, o processo eleitoral e os partidos políticos — vê o cenário favorável à petista, sobretudo com a entrada de Lula na campanha: “Com o lastro da memória do apoio de Lula, as chances são claramente favoráveis a ela”. Sobre o principal adversário de Dilma, Aécio Neves (PSDB), Reis acha que seu crescimento nas pesquisas “ainda não é suficiente para impor uma derrota a Dilma”.

Como o sr. avalia o cenário para as eleições presidenciais?

Temos que ir, basicamente, para as pesquisas, que continuam a dar, apesar de pequenas variações entre os institutos, uma mensagem de vitória de Dilma Rousseff. Em alguns casos, como no Vox Populi, ela aparece ganhando no primeiro turno. Mas, como tem sido ressaltado, as coisas vão começar a se definir depois da Copa e com o programa eleitoral gratuito nas TVs, que normalmente tem importância decisiva. As perspectivas do governo federal e de Dilma como candidata são favoráveis também desse ponto de vista, já que ela terá um tempo maior de televisão e, até aqui, o que teve de avanço na oposição é algo bem relativo.

Como o sr. vê as perspectivas para o candidato do PSDB, senador Aécio Neves?

Estava claro que o crescimento de Aécio iria acontecer, na medida em que ele se tornou o candidato do PSDB e conseguiu resolver os problemas do partido em consagrar sua candidatura num cenário em que tínhamos José Serra como candidato virtual. E o PSDB é um partido com perspectiva de disputar com vigor a eleição presidencial. A tendência é de crescimento do Aécio, embora até aqui não haja indícios muito claros de que isso venha a ser suficiente para impor propriamente a derrota a Dilma.

E a candidatura de Eduardo Campos, do PSB?

A situação dele é mais negativa, pelo fato de que o lugar em que ele supostamente teria apoio natural e forte, o Nordeste, é fiel a Lula há muito tempo e tem sido fiel a Dilma, como vimos na última eleição. É uma briga contra Lula para conseguir se viabilizar como candidato. Do ponto de vista das pesquisas, tem ficado muito claro o que há de problemático nessa candidatura. Apesar da aproximação com a Marina, Eduardo Campos está onde sempre esteve. Não evoluiu.

Há quem diga que vice não elege ninguém. Isso é verdade?

Alguma ajuda a Marina terá dado, pelo menos no sentido de aumentar a visibilidade de Eduardo Campos como candidato. Mas acho que não há razão para apostar que ela veio a ser decisiva, pelo simples fato de ter ficado restrita a vice e de que ela mesma é uma candidata que tem seus problemas — o caráter evangélico e as condições efetivas de uma liderança numa perspectiva mais ampla, além da questão ambiental. A Marina tem, claramente, aspectos positivos, uma certa respeitabilidade. Mas, por outro lado, apesar dos 20 milhões de votos que ela recebeu nas últimas eleições, ela tem que dar provas disso. E, do jeito que ficaram as coisas na aproximação com Eduardo Campos, nem tudo ficou muito tranquilo, houve divergências importantes e, até aqui, não há nenhum impacto muito representativo no que se refere a aumentar o peso da candidatura de Eduardo Campos.

A presidenta Dilma continua como favorita, mas há um movimento gradual de perda de pontos a cada nova pesquisa. Essa queda tende a continuar?

No momento em que a gente tenha o programa eleitoral na televisão, com o tempo muito maior que ela terá e com o lastro da memória do apoio de Lula, que se tornará mais claro, acho que as chances ainda são claramente favoráveis a ela — apesar de ela ser uma candidata difícil. Em princípio, ela é, antes de mais nada, um poste do Lula, uma criação dele. Há implicações relevantes do ponto de vista da liderança real que ela tem dificuldade de exercer, e esse fim de mandato tem deixado isso muito claro. Apesar disso, do ponto de vista do processo eleitoral, como candidata à reeleição, as chances são maiores para ela. E aí nós temos um conjunto de programas relacionados com a sociologia política e eleitoral do país, que são relevantes na discussão.

Programas como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Casa, Pronatec e Prouni são cacifes eleitorais da Dilma?

São, sem dúvida, importantes. Isso toca o que eu chamo de sociologia eleitoral do país. É o fato de a questão social ter se tornado decisiva no processo da política eleitoral a partir de 2006, quando passamos a ter uma nítida correlação entre a disposição de votos dos eleitores e sua situação socioeconômica, com as posições geográficas e regionais. Dilma é fortemente apoiada no Nordeste, como o Lula era, em conexão com o próprio movimento lulista. Obviamente, houve, de modo bem claro, a emergência do PT, que conseguiu juntar uma mensagem de conteúdo ideológico, uma retórica radical, com a figura do Lula, de forte apelo popular, de origens sindicais, e ligando-se a movimentos sociais. O resultado foi a experiência inédita de ver um líder operário chegar à Presidência da República, o que seria impensável em circunstâncias mundiais um pouco antes.

Que condições proporcionaram essa mudança?

A mudança do cenário internacional é um aspecto importante dessa dinâmica. Nas condições e circunstâncias em que se criou o período lulista — com uma certa moderação e um aprendizado realístico na aproximação com os meios empresariais; moderação de perspectivas; e uma redefinição social-democratizante independente do discurso, da forma de atuação; e de programas como Bolsa Família e correlatos, que resultaram em avanços efetivos de determinadas frações do eleitorado, a questão da chamada nova classe média — tudo isso representou algo importante do ponto de vista da dinâmica eleitoral. Essa correlação que a gente passou a ter a partir de 2006 é a evidência mais nítida em termos de dados que continuam a se manifestar no apoio a Dilma, na medida em que o país cresce nos níveis de renda, educação, e se desloca de São Paulo para o Nordeste. É algo muito forte, a ponto de as oposições não conseguirem encontrar um discurso alternativo.

A oposição não tem esse apelo?

Ainda que vejamos Aécio falar em medidas impopulares a serem adotadas, é impossível repudiar o Bolsa Família. De alguma forma, o discurso é o de incorporar. Todos os candidatos têm, de alguma forma, que entrar nisso. Nos Estados Unidos, há a expressão política do “eu também”, para quando há uma política eleitoral muito forte e o que resta à oposição é incorporar isso e acrescentar algo que seja atraente. É dizer que “eu também” faço e farei isso. O que chegou a ser formulado por Fernando Henrique Cardoso, a tese de que o PSDB não tinha que se dirigir ao povão, tinha que falar com setores emergentes, já envolve o reconhecimento de que, bem ou mal, há setores emergentes em políticas que deram certo, ainda que com limitações e problemas. Não se ganha eleição, sobretudo majoritária, sem entrar no povão, porque é aí que está a maioria. O discurso e a política devem se dirigir a ele. Medidas como o Bolsa Família ou as que permitem o acesso ao crédito e aumento do salário mínimo são decisivas. O desafio administrativo que tem que ser enfrentado, pelo menos na campanha dos candidatos, é o de conseguir executar políticas que sejam economicamente efetivas e que evitem o “pibinho”, que consigam criar uma dinâmica econômica mais forte, e que concilie isso a algo que dê continuidade ao atendimento direto e imediato dos interesses da população mais pobre. É muito problemático para a oposição conseguir ser efetiva no discurso que afina com a continuidade do compromisso social.

Mas temos uma insatisfação crescente no Sul e no Sudeste, que contrasta com a realidade do Nordeste que apoia Dilma...

Desde a eleição do Lula, essa polarização vem se intensificando. Tenho visto o crescimento da oposição a Dilma em São Paulo, em níveis socioeconômicos mais altos. Essa é a própria expressão da correlação da qual falávamos. O que pode decorrer dessa insatisfação e dessa polarização do ponto de vista eleitoral? Os setores em que Dilma tem maior apoio são populares e majoritários. Por isso, há uma certa precariedade na aposta de que, na medida em que se intensifica a polarização, aumenta a chance de Dilma vir a ser derrotada. Na medida em que a briga se intensifica, setores mais baixos do eleitorado estarão propensos a trazer apoio, e não é só uma questão de ganhos materiais. Trata-se de um eleitorado via de regra desinformado, desatento politicamente, e isso envolve uma imagem tosca que contrapõe elite e povão, mesmo antes da emergência do PT como fenômeno novo que se inseriu de maneira eficaz nesse quadro. A vitória do MDB, em 1974, pode ser interpretada como uma identificação do partido com a melhoria nos níveis de renda. Em Belo Horizonte, a cada 10 votos, 9 eram para o MDB. O MDB conseguiu criar a imagem de partido do povo, partido popular.

Essa relação entre o social e as eleições teria começado com Getúlio Vargas?

Ele é parte dessa história. Muitos anos depois do desaparecimento do Getúlio, os dados ainda o mostravam como uma figura muito popular, pela consolidação das leis trabalhistas, pela imagem de “Pai dos pobres”. E um ingrediente importante disso continua posto na política brasileira, embora analistas discutam até que ponto o lulismo-petismo representaria algo de natureza mais ideológica, no sentido nobre da expressão, versus essa identificação meramente pessoal. Essa é uma questão importante para se entender até que ponto, para a consolidação da estrutura partidária, a identificação lulista e sua mescla com a identificação petista — sob aspectos negativos do mensalão e a passagem pelo governo — pode se transformar numa identificação estável com partidos, de maneira a estabelecer marcas partidárias. No caso do Brasil, o PT é o grande vitorioso.

Mas ainda não surgiu o “dilmismo”...

Não. Dilma é criação do Lula, e é importante para as perspectivas eleitorais dela que o povão continue sentindo a presença do Lula.

As manifestações na Copa podem influenciar as eleições?

A leitura do significado das manifestações tem sido muito equivocada, com interpretações voluntaristas e pessoas vendo o que querem ver. Acho que houve certa mistificação disso, algo que me parece que é pura e simplesmente o resultado de novos meios de comunicação disponíveis, as redes sociais, o telefone celular etc., que têm produzido situações parecidas mundo afora. Inclusive, no momento em que aconteciam as manifestações daqui, ocorriam também as da Turquia. Em boa medida, elas são meramente uma imitação e são confusas do ponto de vista político. Não merecem a leitura de algo que significasse uma afirmação democrática. Há um claro caráter antipartidário, antipolítico e anti-institucional, sem falar da violência. Tivemos o Palácio do Itamaraty quebrado, houve uma disposição de confronto associada ao antipoliticismo. Dificilmente poderíamos falar de um componente liberal ou republicano nessas manifestações. Fica difícil imaginar que minorias dentro do movimento conseguirão se afirmar, também pelo fato de a tentativa rechaçada de se trazer o tema dos partidos para o movimento, por gente que entendia que era um tema relevante. E há um aspecto das reivindicações: já que o celular e o Facebook estão disponíveis, vamos imitar. Não vejo densidade em nada disso.

Mas não havia uma insatisfação com os serviços públicos?

Essa é a dimensão consistente da coisa, e foi o que deu partida a tudo. É o caso do Movimento do Passe Livre, que depois resistiu a se identificar com as outras manifestações que vieram na cauda. O que não quer dizer associar a ocorrência das manifestações à emergência das questões sociais que falamos antes. Quem está se mobilizando através das redes sociais é gente que se torna mais presente nos níveis socioeconômicos mais altos, e não tenho dúvidas de que esse fator da disponibilidade dos meios de comunicação foi decisivo na ocorrência da coisa, associada à confusão da banalidade que leva às manifestações. É muito claro que o que houve de mais quente nas manifestações mixou, quase desapareceu. Hoje, há gatos pingados, Black Blocs, gente que está quebrando vitrines contra o capitalismo e, ao lado disso, uma movimentação de categorias profissionais e suas reivindicações que criam embaraços no contexto da Copa. O fato é que a Copa está acontecendo sem dar atenção a isso.

Como consequência das reivindicações nos protestos, a presidenta Dilma tentou implantar por decreto a Política Nacional de Participação Social, mas o Congresso e a oposição têm reagido, argumentando que o PT tem domínio sobre os movimentos sociais.

A palavra domínio é um pouco exagerada. O PT tem melhores condições que outros partidos para estar presente em conselhos sociais, essa é a história do partido. É presumível que o PT venha a ter capacidade maior de influência em movimentos análogos, mas não vejo nada muito além disso. Por outro lado, faz sentido que uma questão como essa não seja iniciativa do Executivo, que o Legislativo se manifeste a respeito. Era mais adequado que tivéssemos um projeto de lei, e não um decreto.

Mas o Congresso não deu sinais favoráveis às demandas das manifestações, nem à proposta da reforma política...

Isso é complicado, e não é de hoje. É precário supor que as pessoas beneficiárias do processo político viessem a transformar significativa e substancialmente esse processo, mudar as regras. É preciso mudar, mas temos que contar realisticamente com os embates envolvidos. Não será num estalar de dedos que se colocará uma reforma política consistente nesse país. Há algo indicativo do clima geral: a comissão criada no Congresso por Ronaldo Caiado (Comissão Especial da Reforma Política, em 2011) trouxe temas importantes e poderia estar tomando decisões sem que ninguém prestasse atenção, porque a grande imprensa divulgava as façanhas do Renan Calheiros diariamente. O clima é esse, e isso não ajuda. Os políticos votavam numa direção a tudo o que é contrário ao que acontecia de positivo no Congresso, mas os jornais contavam as falcatruas de Renan Calheiros. É o que vende jornal.

O sr. acha que o Congresso não nos representa, como muito se falou nas manifestações?

Isso é besteira. É, novamente, a manifestação do antipoliticismo. Os políticos que estão aí podem, evidentemente, ser objeto de uma denúncia, de que são corruptos, de que não nos representam. Mas não é possível prescindir deles. Não vai ser brigando e saindo no tapa no meio da rua que vamos resolver nossos problemas. Precisamos das instituições. Não adianta vir com a retórica que sonha com a democracia direta num país que tem 200 milhões de habitantes. Precisamos, sim, aprimorar a transição constitucionalista, em que a gente bem ou mal se insere, e contempla direitos civis nos quais a baderna na rua supostamente aparece como ponto negativo. Sair por aí jogando coquetel molotov nas pessoas, quebrando lojas, bens públicos, tudo isso é uma maneira tosca e inaceitável de definir a atuação política, não adianta começar por uma postura anti-institucional.

Em 2003, quando o presidente Lula assumiu, a CUT e o MST eram parceiros fortes. Hoje, o PT não controla mais o MST e a CUT perdeu força...

Quanto ao MST, as razões e irrelevância dele são bem claras. Não somos mais um país agrário há muito tempo. O tema da reforma agrária não é mais tão relevante. O MST, que já contou com a simpatia da opinião pública, perdeu esse apoio, na medida em que assumiu posições violentas, e tende a se tornar irrelevante. Ninguém imagina que o MST vai tomar de assalto o Estado. Quanto aos movimentos sindicais, esse deram para trás no mundo inteiro, não foi apenas no Brasil.

Por quê?

Há bastante tempo que nos países social-democratas e nos Estados Unidos eles têm sido enfraquecidos por más razões. A leitura geral da dinâmica do capitalismo leva na direção do neoliberalismo, no sentido das crises econômicas, como a de 2008, um cenário antissindicato, anticorporativa, antiestatal. O que acontece é a política da economia da oferta versus a economia da demanda. Foi preciso criar condições para que os empresários pudessem jogar seu jogo livremente. E o fato é que não dá para pensar em fazer social-democracia sem ter um Estado atuante e com movimentos sociais que deem organicidade.

O debate eleitoral corre o risco de ser moralizado por uma pauta com temas como aborto e drogas?

Uso disso, acredito que haverá. Seguramente, Aécio andou por aí fumando sua maconhazinha, experimentando ou usando com alguma assiduidade. Mas há razões respeitáveis para ser a favor do uso da maconha de forma mais ampla. Temos a figura do ex-presidente Fernando Henrique se movendo em torno da descriminalização das drogas, temos o caso do Uruguai. Ao que tudo indica, isso tende a se tornar um tema irrelevante, embora complicado de se administrar em termos de saúde pública e repressão. No nosso caso específico, teremos alguma tentativa de uso disso, mas acho que dificilmente teríamos algo como em 2010, quando se falou de maneira baixa sobre aborto.

E o mensalão?

Vai ficar para trás. Ficou até para o Joaquim Barbosa (presidente do Supremo Tribunal Federal), que não quer saber mais disso. Existe a possibilidade de se ver o mensalão como algo positivo, na perspectiva de mostrar um braço mais comprido da atuação da Justiça brasileira, contra aquela tese de que ela só pune os três “pês” — preto, pobre e puta. Mas o que estamos vendo começa a ficar negativo até nessa perspectiva. O Joaquim Barbosa se desgastou no desdobramento das coisas e nos excessos que cometeu.

O desinteresse do cidadão no processo eleitoral, como as pesquisas mostram, tem relação com as manifestações?

Acho que as manifestações têm ajudado, sim, nessa direção. Há muita gente que se relaciona de maneira distante com a política, que não presta atenção. À medida que se começa a ter dias de manifestações supostamente antitudo na televisão, é natural que as pessoas sejam afetadas.

O número de eleitores que querem votar branco ou nulo é alto? Os indecisos podem beneficiar algum candidato?

Sobre os anos anteriores, sim, é alto. Mas é bom esperar a campanha eleitoral e o programa de TV. E não vejo qualquer indicação de que esse pessoal vá majoritariamente para o lado de Dilma, Aécio ou Campos.