terça-feira, 7 de julho de 2015


O perigo de usar bastão de selfie e outros acessórios durante embarque e desembarque


Alerta está em artigo do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos

Publicado: 06/07/2015 08:28h


Fonte: CENIPA

Um passageiro usando bastão de selfie antes de embarcar em um helicóptero no Sul do país serviu para ilustrar um risco potencial: se o objeto tocasse as pás girando, haveria um acidente aeronáutico.

Diante dessa informação, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), que tem a missão de prevenir acidentes aeronáuticos na aviação civil e militar brasileira, emitiu uma “Divulgação Operacional” alertando sobre os riscos do uso desses objetos.

Acessórios que não estejam presos ao corpo comprometem a segurança operacional no momento do embarque e desembarque em helicópteros com rotores acionados (principal e de cauda). Guarda-chuva, chapéus, bastão retrátil (para fotografia) são alguns exemplos de objetos que não devem ser usados por passageiros e tripulantes nestas ocasiões.

Para evitar acidentes aéreos recomenda-se seguir procedimentos corretos de segurança para embarque e desembarque de helicópteros em áreas de aproximação, previstos nos manuais de operação específicos de cada aeronave. Além disso, empresas operadoras de helicópteros devem incluir no briefing aos passageiros orientações detalhadas sobre os riscos potenciais da utilização dos acessórios não previstos.

Campanhas educativas para conscientizar sobre severidade do risco a que as pessoas se expõem ao usar esse equipamento sem a devida orientação é uma boa forma de atingir um grande número de passageiros. Esses avisos de comunicação visual devem ser colocados no interior das aeronaves, nas salas de espera de embarque e nas áreas operacionais dos aeródromos. Outra ação de prevenção é o acompanhamento dos passageiros nos trajetos até a aeronave.

 


                                                              MINISTÉRIO DA DEFESA

                                                              EXÉRCITO BRASILEIRO

                                                           GABINETE DO COMANDANTE

                                      CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO

                   NOTA DE ESCLARECIMENTO – REPORTAGEM DO JORNAL NACIONAL

                                                                                                                A propósito da notícia veiculada pelo Jornal Nacional, em 02 de julho de 2015, versando sobre a

mudança na Chefia da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC), o Centro de

Comunicação Social do Exército esclarece:

O Gen Bda QEM Luis Henrique de Andrade, nomeado há cerca de um ano e quatro meses para a

função de Diretor de Fiscalização de Produtos Controlados, foi movimentado, no dia de ontem, para

o Departamento de Ciência e Tecnologia, em Brasília, onde irá exercer a Chefia do Centro de

Desenvolvimento de Sistemas, importante organização de Tecnologia da Informação do Exército.

A nomeação está sendo realizada conforme preveem as normas de movimentação de oficiaisgenerais

e dentro do calendário normal da Instituição.

Cumpre salientar que os fatos citados na reportagem teriam ocorrido muito antes da assunção da

DFPC pelo Gen Luis Henrique e em organização militar não subordinada à Diretoria. Portanto, não

cabe nexo entre os fatos e a movimentação do oficial-general.

Para seu lugar foi proposto para promoção a oficial-general, e a decorrente movimentação, o Cel

QMB Ivan Ferreira Neiva Filho, atual Comandante da Escola de Sargentos de Logística.

GENERAL DE BRIGADA OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS

Chefe do Centro de Comunicação Social do Exército

INFORMAR

A economia política do 'Oxi!'

A pergunta que se colocou nesse plebiscito era se o povo grego estava disposto a mais uma rodada de mais do mesmo, e/ou se esperavam que fosse diferente. A resposta veio rápida: Oxi!

Rogerio Studartrogerio.studart@brasileconomico.com.br

Como já descrevi nesta coluna (http://goo.gl/c9jrHp), a crise grega tem se caracterizado nos últimos anos por ser um processo recessivo em que a maioria dos gregos é obrigada a assumir a maior parte de um pesado ajuste fiscal. A pergunta que se colocou nesse plebiscito, portanto, não era se o povo grego queria ou não o ajuste, mas se estava disposto a mais uma rodada de mais do mesmo, e/ou se esperavam que desta vez fosse diferente. A resposta veio rápida e retumbante: OXI!

Antes de mais nada, é importante lembrar que o problema não pode ser reduzido a um conflito entre os a favor e os contra a “austeridade”. Não conheço economista ou analista que sustente que, mesmo antes da crise, a Grécia tinha finanças em ordem — o que, aliás, era o caso de muitos países desenvolvidos e em desenvolvimento no final da década passada. Pelo contrário, todos admitem que a crise de 2009 pegou muitos países em situação fiscal frágil, com altos déficits e dívidas — com exceção, talvez, das economias emergentes, escaldadas pelas crises do passado. E quase todos se assustaram em 2010 quando as autoridades gregas admitiram publicamente o que muitos desconfiavam: o governo havia “subestimado” os déficits públicos ao longo de vários anos. Ou seja: independentemente dos credos econômicos, o ajuste grego era tido como inevitável pela grande maioria dos analistas.

A divergência principal sempre residiu na forma de administrar a correção de rumos. Trata-se de um problema de economia política, que pode ser definido da seguinte forma: a viabilidade do ajuste requer uma correta dosagem, para que tenha sustentabilidade. Do ponto de vista econômico, é imprescindível uma redução dos gastos que não provoque uma queda dos níveis de produção, emprego e investimento — logo, das receitas do próprio governo.

Mas mesmo que tenha um impacto recessivo sobre a demanda doméstica, um ajuste pode ser exitoso se for favorável o estado da economia global. Sempre há a possibilidade de esses ajustes provocarem reduções simultâneas dos custos e da demanda doméstica — infelizmente gerados pela queda do emprego e dos salários. E se a economia global estiver na “cheia” dos fluxos de comércio e de investimento, um aumento da competividade e da queda da demanda interna podem gerar incentivos a exportar. Por outro lado, o ajuste pode aumentar o interesse dos investidores internacionais, engendrando alguma recuperação do investimento. Uma rápida recuperação das exportações líquidas e do investimento pode, por fim, quebrar o círculo vicioso de recessão econômica, menor emprego, menor renda e menos receitas fiscais.

Caso esse desenho dos cortes não leve esses requisitos básicos em consideração, torna-se economicamente irrealizável o próprio ajuste. Mas mesmo que tecnicamente factível, o ajuste precisa ser politicamente sustentável, caso implique uma distribuição dos sacrifícios na qual os que menos podem arquem com a menor parte dos custos do ajuste. Isto não é somente uma tema de justiça social, o que se justificaria por si só; mas também uma questão de estratégia de política econômica: no longo prazo, estes processos podem requerer reformas que afetam camadas importantes da população e/ou de setores politicamente organizados. Do contrário, podem-se gerar resistências insuperáveis, jogando por terra todo e qualquer esforço tecnocrático de acertar as contas.

Infelizmente, as condições externas favoráveis não existiam no começo da crise, e continuam a inexistir, apesar das frágeis recuperações em alguns grandes países (especialmente os Estados Unidos). O comércio internacional anda especialmente lento. E se os fluxos de capital têm aumentado, tem sido particularmente de curto prazo e extremamente voláteis — o que nada contribui para ampliar os investimentos produtivos. Nestas condições, o ajuste fiscal proposto pela troika de credores — o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia — continua muito parecido com as propostas apresentadas anteriormente; ou seja, é recessivo, tecnicamente questionável e politicamente insustentável.

Recusar mais “ajuda” para rolar uma dívida impagável pode parecer, para muitos, uma demonstração coletiva de irresponsabilidade do povo grego. Para os gregos, e possivelmente para a comunidade internacional, os custos do resultado do referendo podem ser enormes. Esperemos que, pelo menos, este imbróglio ajude a gerar uma reflexão sobre a falência dos mecanismos atuais de resolução de dívida soberana, que promovem ajustes fiscais socialmente injustos e, portanto, tecnicamente equivocados.

 

ONU: Em meio à ‘enorme’ crise humanitária no Iêmen, número de civis mortos ultrapassa 1,5 mil









Entre 17 de junho e 3 de julho, pelo menos 92 civis foram mortos e outros 179 feridos pelo conflito armado no país; número de deslocados chega a 1 milhão.

 

Criança se vacina contra a pólio no centro de saúde de Al-Olufi em Sana’a. Foto: UNICEF / IMG_9423 / Yasin

O escritório das Nações Unidas para os direitos humanos está entre as várias entidades-chave da Organização que expressaram nesta terça-feira (07) profunda preocupação com o agravamento dos direitos humanos e a situação humanitária no Iêmen. A crise no país já deixou 1,5 mil civis mortos, 3,6 mil feridos e 1 milhão de deslocados em três meses de violência.

Destacando que os civis continuam sofrendo o impacto do conflito, Cécile Pouilly, porta-voz do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) informou a imprensa, em Genebra que, entre 17 de junho e 3 de Julho, pelo menos 92 civis – incluindo 18 mulheres e 18 crianças – foram mortos e outros 179 feridos – incluindo 43 mulheres e 30 crianças.

“Dezenas de civis foram sequestrados e submetidos à detenção arbitrária em Sana’a. Também recebemos relatos preocupantes que Comitês de Resistência Popular locais, alinhados ao presidente exilado Abd Rabbo Mansour Hadi, executaram sumariamente pelo menos seis pessoas identificadas como fiéis à coalizão Houthi-Saleh e cometeram atos de maus-tratos”.

O acesso humanitário também permanece severamente limitado pela violência recente. Além de insegurança nas estradas e acesso bloqueado a alimentos e água potável, foram impostas aos civis restrições de movimentos. O sistema de saúde do Iêmen também preocupa devido a sua deterioração e à escassez de medicamentos, suprimentos médicos essenciais e de combustível que atingiram níveis críticos.

 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Poupança tem retirada de R$ 38,5 bi, a maior da história no 1º semestre
Segundo BC, é o sexto mês seguido que caderneta registra perda de recursos. Alta da Selic, que tornou poupança menos atraente do que outras aplicações, é vista como um dos motivos da fuga
Agência Brasilredação@brasileconomico.com.br
Pelo sexto mês seguido, a poupança registrou perda de recursos. Segundo dados divulgados hoje (6) pelo Banco Central, os correntistas retiraram R$ 38,542 bilhões a mais do que depositaram no primeiro semestre. A caderneta registrou a pior captação líquida (diferença entre depósitos e retiradas) da história para o período.
Nos seis primeiros meses do ano, os brasileiros depositaram R$ 909,632 bilhões na poupança. No entanto, as retiradas somaram R$ 948,174 bilhões. Apenas em junho, os investidores sacaram R$ 6,261 bilhões a mais do que depositaram na poupança, também a pior captação líquida registrada para o mês. No mês passado, os depósitos somaram R$ 162,854 bilhões, mas os saques totalizaram R$ 169,114 bilhões.
Nos últimos meses, vários fatores estão provocando a fuga de recursos da poupança. Em primeiro lugar, a alta da Selic (taxa básica de juros da economia) tornou a poupança menos atraente que outras aplicações. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a caderneta é vantajosa do que os fundos de investimento apenas quando as aplicações são inferiores a seis meses, apesar de a poupança ser isenta de Imposto de Renda e de taxas de administração.
A alta da inflação também contribuiu para a perda de atratividade da poupança. Nos últimos 12 meses, a caderneta rendeu 7,43%, equivalente à Taxa Referencial mais 6,17% ao ano. A inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, no entanto, está em 8,47%, puxada pela alta de preços administrados, como combustíveis e energia. O aumento dos preços e do endividamento dos consumidores também diminuem a sobra de recursos a ser aplicada na caderneta.
A fuga de recursos da caderneta provocou problemas no crédito imobiliário porque os depósitos da poupança são usados para os financiamentos de imóveis. Em maio, o Conselho Monetário Nacional (CMN) remanejou R$ 22,5 bilhões de compulsórios – parcela que os bancos são obrigados a manter depositados no Banco Central – para evitar a escassez de recursos para o setor.
 


'O ajuste feito por Joaquim Levy não tem retorno' diz economista

Luiz Roberto Cunha, do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio, diz que aperto monetário só pode parar quando juros futuros caírem

Eliane Vellosoeliane.velloso@brasileconomico.com.br e Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

As previsões para a economia brasileira neste ano são, em geral, pessimistas. Com que números o sr. trabalha para crescimento e inflação?

Infelizmente, o crescimento vai ser ruim neste ano e no próximo. Dependendo do grau de incerteza — que hoje é enorme na política, na economia, e até lá fora — e dependendo de quanto os EUA vão subir os juros, acho que teremos, pelo menos, três anos de crescimento muito baixo, nas melhores condições. Em relação à inflação, você tem uma vantagem. A partir de março do ano que vem, retira-se 1,5% daquele extra acrescentado em março deste ano para cobrir o rombo fiscal. Não apenas reduziu-se a tarifa de energia com o objetivo de segurar a inflação, mas, como não podia mais reduzir, começou-se a repassar recursos do Tesouro para as empresas, para segurar a conta. Mesmo que o IPCA feche o ano em 9%, como deve acontecer, cairá para 7,5%. Isso está claro em todas as projeções. Significa que você vai ter um crescimento muito baixo neste ano — um crescimento até negativo, talvez -1,5%, -2% — com inflação muito alta, e um crescimento ainda próximo de zero no ano que vem, mas com uma inflação que, embora não chegue a 4,5%, vai estar em desaceleração, por dois fatores. Primeiro, você não vai ter um aumento tão grande dos preços administrados; segundo, porque terá algum impacto nos serviços, um dos itens que tem pressionado muito a inflação, em função da atividade baixa. Em princípio, também haverá impacto nos outros preços, por conta das restrições de crédito, desemprego etc. Pelo lado ruim, a inflação também será mais baixa no ano que vem. Qual é o risco? Uma desvalorização cambial muito acentuada.

Nesse cenário, o impacto sobre o emprego é muito grande. O governo vai ter condições políticas de sustentar o ajuste com uma taxa de desemprego alta?

Parte do enigma do desemprego baixo do governo Dilma tem uma explicação metodológica. Uma parte da população estava usando o Fies em larga escala para estudar e, devido aos programas sociais, não estavam procurando emprego. De fato, os 5% estavam corretos do ponto de vista da metodologia, mas não representavam uma realidade. Teremos um desemprego crescente, na casa dos 8%, 9%, ao longo dos próximos meses. Mas qual é a alternativa? O governo Dilma chamou o ministro (da Fazenda) Joaquim Levy para conduzir a economia mesmo tendo o ministro (do Planejamento) Nelson Barbosa, não como um contraponto, mas como alguém de maior confiança dela e que conhece o problema fiscal do Brasil a fundo. Ele sai do governo em 2013, exatamente antes da desorganização fiscal, faz críticas, vai para a Fundação Getúlio Vargas e apresenta seminários nos quais demonstra uma visão muito clara do problema fiscal. Esta é uma boa composição. Mas a gente continua com a espada do
downgrade das agências de risco em cima de nós. Na verdade, a entrada do Levy, que é uma pessoa muito respeitada pelas agências e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), é uma segurança. Se ela faz essa aposta — e tem dobrado a aposta em vários momentos —, uma saída do Levy significa o fracasso da tentativa de correção de rumo, com um custo político alto para a presidente.

Dizem que um dos motivos para a queda de popularidade da presidenta Dilma Roussef são as mudanças em relação às promessas de campanha.

Concordo, mas, na campanha, ela falava sobre um país que não existia. Aquele país desapareceu ao longo de 2013 e 2014. A ideia de você incentivar o consumo com expansão do crédito criou uma sensação de euforia.

A professora Maria da Conceição Tavares lembrou que, entre 2008 e 2009, não havia essa taxa de desemprego, em tom crítico às mudanças na política econômica.

Não há dúvidas. Mas volto ao ponto básico: qual é a alternativa? O que se tem hoje é uma visão otimista no governo de que você vai começar a crescer a partir de meados do ano que vem. Eu não acredito na divisão entre desenvolvimentistas e neoliberais, mas mesmo os desenvolvimentistas continuaram dizendo que o Brasil não vai crescer. Embora haja esse consenso, esse caminho não tem retorno. O retorno deste caminho é um risco muito maior, em um momento que se tem uma fragmentação política total e um agravante de enfrentamento à corrupção, que é correto mas gera uma paralisação numa cadeia produtiva fundamental para o Brasil. Agora, é hora de ir em frente.

As visões críticas à política de Joaquim Levy argumentam que, no caminho descendente que a economia segue, há uma queda de arrecadação brutal.

O círculo vicioso é parte de um cenário. Acredito que a Selic tenha chegado ao seu nível. O BC (Banco Central) ainda faria um pequeno aumento, mas ela chegou mais ou menos lá. A inflação ainda vai voltar a subir, então haverá, até, uma redução dos juros reais, embora sejam muito altos. A condição de recuperação da economia passa, também, por uma queda a partir de algum momento, lá na frente, da taxa de juros Selic, depois que você tiver recuperado a confiança. A retomada da confiança é anterior à recuperação da economia. Este é um ponto importante.

A perda de confiança não estaria relacionada, também, à guinada na política econômica?

São três níveis de confiança importantes: do consumidor, do empresário e a externa. Não há dúvidas de que a aceitação, por parte da Dilma, de que a política econômica de seu governo estava totalmente errada e afundou mais o Brasil, seguida pela vinda do Levy, é motivada pela confiança externa. É preciso ganhar a confiança externa, senão eu já entro no jogo perdendo por dois gols. A do consumidor vai demorar um pouco a voltar, porque este estava muito tranquilo e otimista. Tanto que o segmento que teve ganho de renda nos últimos anos votou maciçamente nela. Votou de forma absolutamente coerente. Todo governo busca ter esse tipo de “eleitor-consumidor”. Eu concordo que o empresário está de pé atrás, mas ele sabe muito bem que essa mudança é necessária. No discurso público, ele pode dizer que não, mas sabe que aquele caminho estava inviável. Haveria um choque enorme acompanhado por perda de confiança. O grande ponto é este. É preciso manter a visão de que o Brasil vai arribar lá na frente. Está se tentando retomar esse programa de concessões para dar um jeito. Em algum momento, precisará haver um acordo nos tribunais com relação às empresas (empreiteiras investigadas). Infelizmente, o governo está tão paralisado, que não se está trabalhando melhor nesse sentido. Isso deveria ser feito para evitar um aprofundamento da crise, porque não tem nada a ver com as crises anteriores. E, depois, a confiança do consumidor. Mas o ponto básico é que a recuperação da confiança na capacidade de crescimento da economia de forma mais sustentável lá na frente é fundamental. Senão, voltaremos mais ainda para trás. Meu receio, seja por um cansaço do Levy em determinado momento, seja pela pressão política, é essa volta para trás assustadora.

A desconfiança do empresário se justifica, então, pela incerteza sobre a manutenção do caminho atual?

O empresário quer que as condições de médio e longo prazo para seu negócio sejam positivas. Não adianta o BC baixar a Selic se as taxas futuras de juros continuam subindo. Se não há confiança na atuação do BC, o governo reduz a Selic e as taxas futuras sobem. Isso é uma tragédia, porque revela que não há confiança. Pode-se falar do ganho reduzido que se tem na dívida pública, mas a dívida pública é afetada por muitas variáveis. Se você sobe a Selic e os juros futuros caem, está-se dizendo que não é o momento ideal para baixar a Selic. São quatro situações. Na primeira, baixa-se a Selic e os juros futuros sobem: situação péssima, revela falta de confiança; na segunda, aumenta-se a Selic e os juros futuros sobem: é um momento de ajuste; se você sobe a Selic e os juros caem, você chegou ao momento em que está transmitindo confiança. No momento seguinte, você vai baixar a Selic e os juros futuros irão cair. Essa combinação de quatro momentos é fundamental. O empresário do setor financeiro ganha em todos os momentos, mas, para o produtivo, não interessa se a Selic vai subir 0,5%; interessa quando ele chega no banco e o cara diz a ele: “Sua operação de empréstimo é de 360 dias e vou te dar uma redução”. O ruim, no Brasil, é que ele já passou por isso várias vezes na história recente. Nos dois governos FHC e nos dois de Lula. Ele sabe disso. Minha preocupação é a seguinte: você tem que manter a confiança externa, porque é o que garante não ter o
downgrade; tem que recuperar a confiança do empresário, o que é complicado, porque depende também do fator político e do consumidor. A do “consumidor-eleitor” vai demorar muito, porque o melhor cenário é chegar em 2017/2018 em uma situação melhor do que na virada do primeiro governo Dilma para o segundo, mas não em uma situação muito favorável para esse grupo.

As entidades de classe, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), vêm tendo uma visão muito crítica do governo.

Da mesma forma que os ministros da Fazenda têm que dizer que a situação vai melhorar, grande parte dos líderes empresariais tem que reclamar sempre. Quem acompanhou a política econômica desde o início dos anos 70 nunca viu o contrário. Faz parte do jogo. Infelizmente, é um jogo, mas não no sentido pejorativo. Manter a confiança externa faz parte das regras como se comporta o mercado. Não se pode dizer que vai ficar contra ele. Aliás, Dilma acabou de ir aos Estados Unidos depois de passar quatro anos sob a batuta do Mercosul, percebendo que, daqui, só se tira problema. Toda vez que a Argentina tem um problema, bloqueia as importações brasileiras, mas quer continuar exportando seus automóveis para nós. A Venezuela... não tem muito do que sair dali. Isso é um pouco do jogo. Infelizmente, a última confiança a se retomar será a do consumidor, o que irá aumentar muito a pressão.

Além da questão da confiança, o governo tem uma situação política de total desconforto, com um Congresso que pode comprometer a correção dos rumos da economia...

Isso me preocupa. Você consegue, a duras penas, aprovar a desoneração na Câmara, e aí o Senado aprova a extensão do reajuste do salário mínimo para as aposentadorias. Um dos analistas que gosto de ler disse que temos no Brasil, hoje, uma “Constituinte pirata”, porque ninguém elegeu, mas ela está funcionando. Ao longo de 1992, no governo Collor — sem querer fazer discussão sobre a questão do impeachment, que é paranóica —, o Ministério da Fazenda, com Marcílio Marques Moreira, e o Banco Central, com Francisco Gros, conseguiram separar, muito bem, a economia da política. A inflação estava alta, mantiveram a taxa de juros elevada, aproveitaram um momento de liquidez externa e conseguiram, inclusive, melhorar as reservas, o que foi importante para o Plano Real lá na frente. Mas conseguiram separar. E acho que esse cenário é possível. Outro ponto é dizer o que mais tem para votar, quando voltarem do recesso, no mês de agosto. A não ser uma pauta bomba, porque aí, cá entre nós, até uma parte da sociedade que está gostando desse jeito do Congresso emparedar a presidenta, vai tomar um certo susto. Porque se você aprovar a PEC dos bombeiros, a PEC dos policiais etc., aí, você vai acabar com o Brasil. Obviamente, este é um Congresso bastante conservador, o que é um dos problemas.

Mas há esse risco de se ter aquele período do governo Sarney, de profundo desgaste?

Claro, há um risco, que é você perder a confiança externa, que é o elemento principal.

Evidente que a formação da presidenta Dilma tem uma influência da escola de Campinas. O sr. acha que há a possibilidade, se não vierem os resultados, de se voltar mais para a formação dela?

Possibilidade há. Mas, veja, ela já fez isso no passado e não deu certo. E ela é uma pessoa minimamente informada.

No primeiro mandato ela alongou demais. Até a própria inflação que era de oferta passou a ser de demanda. E ela não soube administrar isso...

Ela errou no primeiro mandato e chegou a um ponto que, infelizmente, perdeu a chance de tentar a outra via. O Lula foi pragmático e a Dilma foi dogmática. Mas ela foi dogmática não num modelo que seria dado pelos desenvolvimentistas mais ortodoxos. Ela resolveu fazer uma coisa meio mista, e aí foi o grande erro. Porque o grande erro foi em 2013 e 2014. Na hora que começa a chegar o fator eleitoral, esse consumidor-eleitor não poderia ser prejudicado. Aí acho que quem induziu foi muito mais o marqueteiro, do que o lado economista dela. Talvez seja o mal da reeleição, que te obriga a você fazer tudo para se eleger. Pelo que a gente sente, o Partido dos Trabalhadores — que é o atual partido dela, dado que na origem não era o partido dela, porque ela era brizolista — aparentemente vai abandoná-la, mas ela pode querer ser uma estatística e falar: “Se eu conseguir entregar o país um pouco melhor do que eu recebi de mim mesma...”, o que é uma coisa fantástica, mas que aconteceu com o FHC e com o próprio Lula... Ela pode fazer isso. O cenário de ruptura existe. Um cenário em que há uma perda de controle nessa questão política. Numa hora que o próprio PSDB vota contra o Fator Previdenciário só porque a presidenta vai ter que vetar, passou a ser um jogo negativo. Nessa hora, tudo pode acontecer.

Mas esse risco de que ela possa fazer de novo o que ela fez no final do mandato dela é um fator que mantém a desconfiança dos empresários?

Não tenha dúvida. Ela poderia voltar a gastar mais.

No caso dos combustíveis, por exemplo, a Petrobras está dizendo que tem autonomia para praticar preços. Será?

Realmente ainda é um problema muito sério. No setor elétrico, que foi desorganizado, está se tentando reorganizar. Na Petrobras, eu não tenho nenhuma dúvida que este ano você terá que dar um aumento. Olhando só do ponto de vista da inflação, é melhor fazer o mal este ano, para limpar o ano que vem. Essa definição será fundamental. Não precisa fazer agora no meio do ano, mas na hora que a inflação estabilizar em 9%, tem que fazer.

Mas agora tem um outro fator que é o juro de 14%, que a professora Conceição Tavares chamou de desvairado...

Essa taxa de juro real é insustentável no médio e longo prazo. Mas se você não recuperar a credibilidade, a taxa de juro futuro vai continuar subindo.

Então o que mantém o Levy é a possibilidade de desastre?

Mas já foi isso. Porque tudo isso perde-se se a gente voltar para trás. Seria tão irracional você fazer uma volta atrás quando você já caminhou esse percurso, que é muito curto... Nós saímos muito rápido de uma euforia no ano passado — embora já se soubesse que as contas fiscais estavam absolutamente desorganizadas — para o momento a que chegamos, foram três, quatro meses. Essa rapidez da crise também leva a uma certa cautela, a um certo refreamento.
O que se fala é que o Levy é um peixe fora d’água no governo e que o ministro Nelson Barbosa estaria aguardando um desgaste maior dele para assumir a Fazenda... Mas o Nelson Barbosa sabe a profundidade do problema. E o próprio ministro disse, em entrevista na semana passada, que o fiscal estava pior do que eles esperavam. E também criticou o aumento do Judiciário.

O sr. também falou sobre a situação externa e hoje temos a questão dos juros americanos, que fica como espada de Dâmocles sobre nós, e a crise da Grécia.

Eu acho que a crise da Grécia vai ter que ter um fim agora. É impossível você estender muito mais essa coisa. O primeiro-ministro grego, que é muito inteligente, e o seu ministro das Finanças, que é um professor de teoria dos jogos, estão se divertindo, no bom sentido, jogando com a inconsistência do euro e dos políticos europeus. Eles estão ali, sorrindo, porque estão ali fazendo um experimento.

Então, se a sua previsão se confirmar, se a economia passar por esse período de ajuste, de rearranjo, começaria a entrar em recuperação em 2018. Isso significa que o Lula pode se favorecer com esse plano mais ortodoxo do Levy?

Eu diria que no final de 2018 você vai ter uma economia melhor do que ela deixou, mas ela deixou a economia em frangalhos. Eu pessoalmente acho que o Lula tem muito mais chance sendo candidato de oposição ao governo Dilma. Eu acho que ele pode ser um candidato de peso, e será, mas ...

Ele vai ficar batendo no Joaquim Levy até 2018?

Se eu fosse marqueteiro, eu sugeriria que esse é o melhor caminho (risos). Porque, na verdade, o consumidor-eleitor não vai voltar a viver aquela euforia.

Então o Lula vai dizer “Eu entreguei melhor”, não é?

Esse é o ponto. Aquela ideia de que você tinha, pelo consumo, de fortalecer politicamente, deu certo no governo Lula e deu certo na eleição. Mas esse foi o grande erro. Na falta de confiança naquilo que você estava fazendo — e acho que esse era o problema da presidenta, ela não tinha confiança em nada daquilo que estava sendo feito — ela não optou por dar uma guinada de fato. Aí, acho que ela sentiu um certo desespero — e aí o marqueteiro foi importante — e disse: “Olha, agora chuta o balde”.

Porque o diagnóstico que veio de Campinas foi correto, quando eles disseram que a questão não é mais de demanda, é de oferta.

Claro, eles disseram: não vai dar certo. Não é demanda, é oferta. E nós não estamos conseguindo aumentar a produção, não estamos dando confiança.

Estava-se dando incentivo ao consumo, quando se estava tendo inflação de oferta.

E ela esticou o incentivo ao consumo, e arrebentou com as contas públicas de uma tal forma... Porque mesmo numa visão heterodoxa, o fiscal é importante.

E o que é determinante daqui para frente para a conquista da confiança dos mercados por parte da presidenta Dilma? Que ela não interfira, ou demonstre mais convicções sobre o ajuste?

Isso é uma condição necessária, que ela tenha a atitude de não voltar atrás. Mas o grande ponto é como essa confusão de Congresso, de perda de controle, como se consegue chegar a alguma coisa racional em relação às grandes empresas que estão sendo investigadas. Porque você não pode continuar a ter o país em que suas maiores empresas, em termos de impulso para o crescimento, estejam paralisadas. Você tem que ter novas rodadas de concessões. Mas... como é que ela administra isso? Eu nem sei como se administra isso. Porque, aparentemente, o controle dela sobre isso é pequeno. Ela não tem conseguido isso.

Então o grande risco é político?

Eu diria que sim. Essa é a diferença dessa crise para todas as outras. A questão é conseguir separar a economia da política

 

domingo, 5 de julho de 2015


ONU: Ataque no Mali deixa seis capacetes azuis mortos









Como este atentado, o número de fatalidades em atos hostis desde o início das operações da Missão, em 25 de abril de 2013, chega a 42 soldados mortos, incluindo dez em 2015, e 166 feridos.

 

Membros das tropas da MINUSMA em Mali. Foto: MINUSMA/Marco Dormino

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou nesta quinta-feira (02) o ataque contra o comboio da Missão de Estabilização Multidimensional Integrada no Mali (MINUSMA), que matou seis membros da força de paz e feriu outros cinco.

“O secretário-geral lembra todas as partes que os ataques contra os soldados da paz constituem uma séria violação do direito internacional e insta todos aqueles responsáveis a serem julgados rapidamente”, disse o comunicado divulgado pelo porta-voz da ONU.

Todos os membros da força de paz mortos e feridos eram de Burkina Faso. Como este ataque, ocorrido na região de Timbuktu, o número de fatalidades em atos hostis desde o início das operações da Missão em 25 de abril de 2013 chega a 42 capacetes azuis mortos, incluindo dez em 2015, e 166 feridos.

“Estes ataques não vão alterar a determinação das Nações Unidas para apoiar o povo do Mali e o processo de paz, incluindo por meio da assistência à implementação do Acordo de Paz e Reconciliação em Mali”, disse a declaração.

 

A nova ordem financeira

Os que desdenhavam das cúpulas do Brics, afirmando que se limitavam a conversas sem efeito, verão agora o primeiro resultado institucional do grupo: o Novo Banco de Desenvolvimento

Florência Costaflorencia.costa@brasileconomico.com.br

O tema do encontro deste ano é “Parceria dos Brics: um fator pujante do desenvolvimento global” com o foco mais em uma agenda econômica. As previsões negativas e sombrias sobre o futuro dos Brics, boa parte vindas dos países ricos, não foram poucas. Mas o fato é que há uma expectativa grande e uma aposta de que a nova instituição vai ajudar as economias emergentes a conseguir investimentos necessários para infra-estrutura, já que as atuais instituições de Bretton Woods deixaram muito a desejar. Apesar do fato de o Brics ter sido criado para discussões informais em questões de desenvolvimento global, o grupo aumentou o seu leque de atuação e passou a seguir mais uma política de integração econômica.

Segundo Amar Bhattacharya, economista do Programa de Desenvolvimento e de Economia Global do Brookings Institution, a infra-estrutura continua sendo o grande entrave dos emergentes e pobres: 1,4 bilhão de pessoas não tem acesso à eletricidade, quase 1 bilhão não contam com água potável e 2,6 bilhões não sabem o que é sistema sanitário. Energizado com a criação do banco, o Brics ganhará uma cara nova, como observou o subsecretário-geral político do Ministério das Relações Exteriores, embaixador José Alfredo Graça Lima.

Ex-dirigente da Infosys, gigante da Tecnologia da Informação, e do ICICI, o maior banco privado da Índia, Kamath deixou claro que o banco que dirigirá, com sede em Xangai, não limitará o escopo de suas operações aos países-membros do grupo. O banco não carrega o nome Brics de propósito: para permitir a participação de novos países no clube de economias emergentes no futuro. Mas a ideia inicial é de que a instituição financie, por um dois anos, somente os Brics antes de aceitar novos membros.

O banco terá um capital autorizado inicial de US$ 100 bilhões, sendo que o capital social inicial será de US$ 50 bilhões, a serem compartilhados entre os membros fundadores. Em janeiro do ano que vem, a instituição elegerá cinco iniciativas apresentadas pelos países do Brics. O banco vai garantir a possibilidade de realizar financiamentos na moeda local do país em que a operação acontecerá.

Também entrará em vigor em 30 dias o Tratado para o Estabelecimento de um Arranjo Contingente de Reservas do Brics. Os recursos deste fundo serão acessados pelos países do bloco em momentos de crise, quando algum deles enfrentar pressões em sua balança de pagamento. O fundo financeiro vai ter um capital inicial de US$ 100 bilhões, com aporte de US$ 41 bilhões da China, US$ 18 bilhões do Brasil, da Índia e da Rússia, cada um, e US$ 5 bilhões da África do Sul. O mecanismo vai reforçar a confiança dos agentes econômicos e financeiros mundiais e amenizar o risco de contágio de eventuais choques que possam afetar as economias do bloco.

Ao mesmo tempo, na última segunda-feira, representantes de 57 países cofundadores do Banco Asiático de Investimento em Infra-estrutura (AIIB), com um capital aprovado de U$100 bilhões e liderado pela China, assinaram, em Pequim, o acordo sobre a criação da instituição, que deverá começar a funcionar no fim deste ano, com o foco em projetos na Ásia. As duas instituições são fruto dos passos de tartaruga das reformas, há tanto tempo exigidas pelos emergentes, das entidades multilaterais de financiamento como Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, e Banco de Desenvolvimento Asiático, vistas como dominadas pelos interesses europeus, americanos e japoneses.

Mais ainda: com o objetivo de garantir a segurança energética do Brics, o grupo irá discutir uma associação no setor, com a criação de um banco de reservas de combustível e um instituto de políticas de energia para fazer pesquisas integradas e análises dos mercados globais. O centro industrial de Ufa — um nome que soa engraçado aos ouvidos brasileiros, mas que significa “águas escuras”, localizado nas encostas ocidentais dos montes Urais — estará agitadíssima na semana que vem. Isso porque a cidade russa vai sediar outro importante encontro: o da Organização para Cooperação de Xangai, fundado por China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão, e que agora abraçará dois países rivais:

Índia e Paquistão. Esta organização é vista como um instrumento de reforço da Eurásia e desta estratégia multinacional de desenvolvimento da China do século XXI. Uma forma de contrabalançar a aproximação dos Estados Unidos com os países do Sul da Ásia.

 

Tratado de cooperação entre países da Amazônia não trouxe soluções para a região


Organização “Pan-Amazônica” formada por oito países existe há 40 anos, mas até hoje problemas da região continuam sem solução

Manaus, 04 de Julho de 2015

NATÁLIA CAPLAN

Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela compõem grupo (Divulgação)

Quase 40 anos após a assinatura do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) — por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela — e da criação da Organização dos Tratados de Cooperação da Amazônia (OTCA), os problemas da região continuam sem solução efetiva. Esta é a opinião de lideranças políticas e empresariais do Amazonas, como o economista Osiris Messias Araújo da Silva.

“É impossível pensarmos no futuro da Amazônia sem a integração pan-amazônica. Temos as nossas vantagens competitivas nas nossas vocações, o Peru tem as suas, a Colômbia tem as suas... Por exemplo, a integração das bacias hidrográficas é absolutamente essencial. Discute-se essa questão há uns 50 anos e o governo não avança em relação às medidas concretas”, disse ele, que é um dos defensores da Pan-Amazônia.

Graças ao primeiro documento, assinado em 3 de julho de 1978, as oito nações decidiram criar a OTCA para fortalecer e implementar os objetivos do pacto inicial. O protocolo de emenda foi assinado em Caracas, capital venezuelana, duas décadas depois. Porém, temas como BR-174, redução do desmatamento, melhoria na Hidrovia do Madeira, demarcação e extrativismo em territórios indígenas continuam restritos às pautas de reuniões.

“Todas as medidas recomendadas são repetição do que os governos já prometeram antes e que não foram cumpridas até hoje”, enfatizou o também presidente da Associação Amazonense de Citricultores (Amazoncitrus). “Temos a nossa OTCA sediada em Brasília, quando deveria estar em Manaus. A Amazônia é aqui, não em Brasília. A organização vem falando isso, toda a Pan Amazônia tem reclamado muito”, completou.

Silva, inclusive, citou algumas perdas para o Amazonas em consequência da falta de conexão com os vizinhos fronteiriços. Ambos compartilham da mesma floresta, mas não dos avanços tecnológicos, científicos ou educacionais. Ele citou o exemplo da cidade colombiana de Leticia, fronteira com Tabatinga (a 1.105 quilômetros de Manaus), onde fica a Universidade Nacional de Colômbia - Sede Amazônia.

“Quem vai lá se surpreende com a estrutura universitária e o centro de pesquisa. Aí, eu pergunto: ‘qual é o contato do Inpa [Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia] e das nossas universidades com eles? Nenhuma. Existem acordos, mas não são operacionalizados”, disse o dirigente da Amazoncitrus.

Na última semana, inclusive, ele acompanhou a primeira reunião ordinária do Parlamento Amazônico, na Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM). “Por meio da OTCA existe a integração e acordos não operacionalizados. É importante que os deputados e o Parlamento Amazônico, tenham consciência não apenas do problema, mas vivenciem, saibam o que é essencial para o desenvolvimento da Região”, finalizou.

Falta interesse político do Brasil

Em concordância com o economista Osiris Silva, o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Wilson Périco, acredita que há um grande esforço por parte dos governantes estrangeiros para estreitar as relações. Porém falta interesse dos agentes políticos do Brasil. No começo desse ano, inclusive, uma comitiva peruana esteve em Manaus pela segunda vez para conversar sobre o transporte fluvial até o oceano Pacífico.

“Já veio um pessoal do Peru e do Equador quatro ou cinco vezes. Já fomos nesses países também. Todo mundo já sabe da viabilidade e importância de executar essa interligação. Acho que nem foi para o papel ainda, só fica no discurso. Seria importante se funcionasse, mas de efetividade. Seria uma forma de reduzir custos e tempo de viagem. Mas cada vez que muda a cabeça do governante voltamos à estaca zero”, declarou.

Tal necessidade também foi mencionada pelo deputado estadual Luiz Castro (PPS) em conversa com o Osiris Silva. “É importante que os deputados tenham consciência do problema e vivenciem, saibam o que é essencial para a Região”, disse o economista.

“Eles não priorizam algo fundamental”

Luiz Castro, deputado estadual pelo PPS: “Existe um movimento Pan-Amazônia e ele [Osiris Silva] é uma dessas pessoas, assim como políticos de outros países e embaixadores. Mas percebemos que o governo federal não promove essa integração. O Tratado não funciona na prática por falta de interesse de articulação da União, do Ministério das Relações Exteriores. Deveríamos ter representante da OTCA em Manaus. Precisamos de integração econômica, tecnológica e científica de experiências que dão certo aqui e lá; de cooperação de comunicação e logística, opções fluviais e não fluviais até o Pacífico. A maior bacia hidrográfica do mundo é aqui, mas as nascentes dos rios estão nos países vizinhos. O Brasil deveria ser o promotor dessa integração, como um dos países que detêm maior parte do bioma. Porém os governantes não têm status para essas questões internacionais. Falta promoção do Itamaraty, fazendo a sua parte. Eles não priorizam algo fundamental.

Integração entre estados brasileiros

Na mesma linha de pensamento da Organização dos Tratados de Cooperação da Amazônia (OTCA), o Parlamento Amazônico reúne os integrantes da Amazônia Legal do Brasil — Amazonas, Acre, Amapá, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Maranhão e Tocantins —, com o objetivo de buscar soluções para problemas vivenciados na Região, com alternativas que aliem desenvolvimento sustentável e crescimento econômico.

De acordo com o presidente do grupo, deputado estadual Sinésio Campos (PT), apesar de somente os nove Estados brasileiros integrarem a instituição política, a meta é incluir debates sobre as problemáticas da Amazônia com os países vizinhos. Isto, porém, deverá ocorrer somente na segunda parte da gestão dele, eleito no último dia 11 de junho para o biênio (2015/2016). Entre os assuntos, está a ligação fluvial com o oceano Pacífico.

“As reuniões vão até março de 2016. Depois, começaremos as discussões com a Amazônia Continental, não ficar somente restritos às medidas paliativas. Se cada Estado cuidar somente do seu próprio umbigo, nunca faremos uma integração entre os Estados, imagine com os outros países. A Amazônia não se limita ao Brasil”, declarou.